sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Seguir Luiz Barsi vale a pena?

O raciocínio de Luiz Barsi parece simplista demais, mas me parece um excelente guia para qualquer investidor. Ele é sintético, acompanha, de fato, as opções de investimento no mercado brasileiro. É extremamente crítico com as alternativas que não compra, mas talvez exagere nas vantagens das ações que tem em carteira.
É óbvio que o mercado financeiro, por meio dos bancos de varejo, oferece opções muito ruins para o pequeno investidor brasileiro, geralmente com juros reais negativos. E que os imóveis dependem de fases muito boas, que são difíceis de prever numa economia que cresce com solavancos. E que é difícil ganhar, de forma líquida, mais do 3% em aluguéis e que estes podem dar muita dor de cabeça. E que investir em índices de ações no Brasil não é uma boa, porque há muitos papeis apodrecendo no Ibovespa. E que ser sócio de uma empresa de capital fechado o transforma em um gestor, que enfrentará muitas dificuldades, como em qualquer gestão administrativa em nosso país, e abrirá mão de um sono tranquilo.
Quem prestar atenção verá que o fundamento das dicas de Barsi repete as lições de Buffet. Gastar somente o necessário e investir ao invés de especular. Parecem conselhos bobos e baratos, mas é difícil discordar que talvez apenas esses dois quesitos sejam suficientes para explicar o comportamento bem sucedido de alguns quando comparado a outros.
As pessoas escolhem o consumo e a especulação porque o hoje é mais importante do que o amanhã. Não há muito mistério nisso. Claro que a propensão para gastar e especular depende da cultura e do país que o indivíduo vive. Mas nem tudo é simples.
A questão que se mantém em aberto é a relação entre especulação e consumo. Ao que parece, os especuladores não são somente mais ambiciosos, porém mais presentistas também. Quem quer poder e fama, o quer pra agora, e não quando estiver decrépito. O exercício do mando, da masculinidade, da força, não faz sentido como um prêmio para o bom desempenho dos investimentos no final da vida. O exercício do poder é urgente.
É raro notar especuladores que tem benchmarks colados em rentabilidades de outros investimentos. O especulador não busca 3%, 5% ou 7% ao ano. Ele busca esses percentuais ao dia, mesmo que oscile entre perdas e ganhos e o resultado final fique, no somatório, bem aquém do esperado.
No Brasil não temos muitos investidores. Temos especuladores e consumistas. É o país do presente, do povo que ficará na história recente da microeconomia por aceitar pagar 100% de juros anuais para poder consumir eletrodomésticos. Em tese, tal comportamento deveria favorecer o pequeno investidor, mas infelizmente as instituições do país não estendem para os indivíduos tais ganhos.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Carteira recomendada para outubro de 2013

Setembro foi um mês bom para o Ibovespa, mas como tal bondade se realizou pela recuperação de ações blue chips preferidas por investidores externos, a carteira de ações recomendadas não conseguiram pegar a boa onda. Metade das carteiras publicadas no Valor Econômico continua no negativo no ano, ainda que todas superem o Índice.

A Planner continuou no posto de pior de todas as carteiras. Como dissemos, suas sugestões são arriscadas, pois excessivamente fundamentalistas. Entraram CYRE3 e ALLL3, voltou TOTS3 e manteve-se apenas TAEE3 e CCRO3.
A Ativa não vai bem no ano, no que pese suas carteiras terem sido sempre leves. Continua razoável, sem estranhezas: BVMF3 e ITUB4 continuaram, BEEF3, TBLE3 e VALE5 saíram para dar espaço para SUZB5, HGTX3 e CCRO3. É interessante uma corretora reconhecer que insistir na Vale pode ser um erro.
A XP continua mexendo bastante sua carteira. Manteve apenas ALLL3 e BBSE3, acrescentou EVEN3, MPLU3 e um banco médio, ABCB4. Continua chamando a atenção a presença da enigmática operadora de ferrovias.
Poucos riscos também na carteira da SLW, que colou na recuperação mundial e no Ibovespa com VALE5, PETR3 e FIBR3. Complementam a carteira POMO4 e AEDU3.
A Souza Barros, sempre fiel ao mercado interno, manteve a carteira de setembro: além de CTIP3, RENT3 e TBLE3 (desde agosto), BRFS3 e UGPA3. A carteira segurou papéis que a Bradesco trocou, como CTIP3 e BRFS3. Na Bradesco, entraram SUZB5 e BBAS3, além de CSAN3, HYPE3 e BBSE3.
A carteira da Citi, muito exposta aos setores exportadores e produtos sensíveis ao dólar, corrigiu os excessos, tirando SUZB5 para por HYPE3, continuando com BRKM5, BRFS3, CCRO3 e UGPA3.
A Octo foi muito bem em setembro com uma carteira de poucos riscos e decidiu manter a estratégia, apesar da entrada da GRND3, ao lado de blue chips ITUB4, BEEF3, SUZB5 e VALE5.
Por fim, é preciso mencionar as duas corretoras krotonianas. A Geração Futuro, que segue bem colocada, ficou igual ao mês anterior, com BBSE3, KROT3, POMO4, UGPA3 e VALE5, enquanto a Santander, também entre as líderes, só tirou Randon para por ITSA4, ao lado de BRFS3, MYPK3, KROT3 e VALE5.
Em geral, continuo achando que ainda tem muita Vale nas carteiras. Kroton, que é ação que fez a diferença nas carteiras, parece ter batido no teto, mas o apego é forte. Como as carteiras estão parecidas, não deve haver muitas divergências nos últimos meses.

sábado, 7 de setembro de 2013

Melhores sites de apostas esportivas

Não ganho nada sugerindo pra ninguém o melhor ou o pior site de apostas esportivas. Mas essa dúvida é muito procurada no google então resolvi ajudar quem procura por uma boa resposta.
Eu classificaria as respostas em quatro classes:
1- Os mais divulgados no Brasil: Betboo e Sportingbet.
2- Os mais populares mundialmente: Bet365, Bwin, William Hill, Coral e Bovada.
3- O com menor comissão: Pinnacle.
4- Os de estilo bolsas de apostas: Betfair.
Eu recomendo sites seguros (em tese, os maiores são mais seguros, mas ninguém sabe ao certo) e os baratos (com comissão mais favorável ao apostador).

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Carteira recomendada para setembro de 2013

Falta só um quadrimestre pra encerrar o ano e a essa altura as corretoras que ficaram pra trás já sabem que não conseguirão mais reverter suas performances. Das dez carteiras do Valor, cinco delas estão em campo negativo. Mas isso não é tão ruim quanto parece. Todas estão acima do Ibovespa.
A Planner é a pior de todas as carteiras e suas sugestões são arriscadas, pois excessivamente fundamentalistas. Quatro das cinco ações tiveram variações negativas no mês de agosto (ALPA4, CCRO3, DIRR3 e DTEX3). Só TOTS3 foi positiva. Nenhuma outra carteira apostou em tantas correções ao mesmo tempo.
A Ativa não vai bem no ano, no que pese suas carteiras terem sido sempre leves. Continua razoável, sem estranhezas: BVMF3, ITUB4, BEEF3, TBLE3 e VALE5. A XP parece ter desistido de especular com papéis de segunda: garantiu-se com ALLL3, BBSE3, CMIG4, DIRR4 e ITUB4. Nem parece a mesma corretora de meses atrás. Só chama a atenção a presença da enigmática operadora de ferrovias. Poucos riscos também na carteira da SLW: BBDC4, FIBR3, RADL3, RAPT4 e VALE5.
A Souza Barros, sempre fiel ao mercado interno, abre-se aos poucos: além de CTIP3, RENT3 e TBLE3, manteve BRFS3 e trouxe UGPA3. A carteira ganhou semelhança a da Bradesco, que inseriu CTIP3 e BRFS3, ao lado da lucrativa GGBR4 de agosto, HYPE3 e BBSE3.
A campeã de exportadores e produtos sensíveis ao dólar é a carteira da Citi, talvez querendo aproveitar o bom momento cambial: BRKM5, BRFS3, CCRO3, SUZB5 e UGPA3. A carteira foi bem no mês passado, principalmente em razão da celulose.
Com um resultado acumulado no ano próximo de zero, a Octo não quer entrar no negativo e não resolveu arriscar: CMIG4, DTEX3, HYPE3, ITUB4 e VALE5 seguem a correnteza.
Por fim, é preciso mencionar as duas corretoras krotonianas. A Geração Futuro ficou com BBSE3, KROT3, POMO4, UGPA3 e VALE5, enquanto a Santander escolheu BRFS3, MYPK3, KROT3, RAPT4 e VALE5.
Em geral, acho que ainda tem muita Vale nas carteiras. Kroton, que é ação que fez a diferença nas carteiras, parece ter batido no teto. Como as carteiras estão parecidas, não deve haver muitas divergências nos últimos meses.
As carteiras de dividendos têm ficado estáveis nos últimos meses. A da Um, por exemplo, conta com GRND3, CCRO3, TAEE11, MPLU3, TBLE3, COCE5 e BBDC4. Para algo mais original, pode-se buscar as sugestões da XP, CMIG4, VALE5, CIEL3, VIVT4, ALUP11 e BBSE3.

sábado, 8 de junho de 2013

Carteira recomendada de junho de 2013

A Ativa substituiu AMBV4 por PCAR4. Manteve ITUB4 e VALE5, para não descolar muito do Ibovespa, desistiu de experimentar KLBN4 e colocou MILS3 e EQTL3. A carteira da Octo continua com estratégias semelhantes à Ativa: excluiu Ambev e Suzano, manteve Vale e um banco, o Bradesco, não mexeu com BVMF3 e acrescentou GRND3 e BEEF3.
A Santander não mexe na Kroton, que está acompanhada de ITSA4, EZTC3, BRFS3 e MYPK3. O interessante é que excluiu Pão de Açúcar, enquanto outros incluíram.
A Souza Barros voltou a flertar com ações caras e introduziu em sua carteira HYPE3. Continua com apostas que parecem gráficas, como BRFS3, ao lado de RENT3, MDIA3, CTIP3.
A carteira da Citi sofreu apenas uma pequena mudança, retirando LPSB3 e retornando a EVEN3. Manteve-se fiel a ITUB4, ao lado de PETR4, CSAN3 e TBLE3.
TOTS3, apesar de continuar em queda suave, manteve-se na carteira da Planner. Foi a única ação mantida, na revolução de junho, que optou por DTEX3, CSMG4, MULT3 e CRUZ3.
Também ouve nova revolução na SLW, que adora mudanças. Só manteve BEEF3 e trouxe CRUZ3, GGBR4, CCRO3 e BRPR3. É interessante ter excluído por completo os bancos e se render à saudade da concessionária.
A Bradesco excluiu ações caras como RADL3 e ESTC3, embora tenha mantido HYPE3. Afora  BVMF3, compõe sua carteira com papéis menores, como JHSF3, TGMA3 e BRPR3.
A Geração Futuro, que há três meses não troca mais de um papel, seguiu firme em sua estratégia e só trocou CIEL3 por DAGB11 (operadora de Duty Free), mantendo RAPT4, ITUB4, KROT3, e UGPA3.
Quanto à XP, ela ainda tem mantido sua carteira comum: ITUB4, PETR4, BRML3, BBSE3 e a local FJTA4 que substituiu a outra local Grazziotin.
Quem gosta de novidades precisa buscar em outras corretoras. O Banco Espírito Santo, por exemplo, aposta em VALE3, ITUB4, MRFG3, mas CMIG4 e CYRE3.
As carteiras de dividendos não diferem muito das outras de meses passados. A da Bradesco, por exemplo, sugere AMBV4, BVMF3, CTAX11, CIEL3 e VIVT4. O interessante é a presença de ações que já saíram das carteiras normais. Outras sugestões emergem da carteira da Rico, como GRND3, COCE5, TBLE3, BBAS3, BRPR3 e TAEE11, e da Um, como HGTX3.
Quem curte risco pode se inspirar nas Small Caps da Fator: KROT3, MDIA3, AMAR3, PSSA3, RDNI3 e LEVE3.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Tênis: apostas nos sets nos Grand Slams

Imagine dois jogadores iguais. Em tese, poderiam simular um jogo de cara ou coroa pra ver quem vence e teríamos a seguinte distribuição para um jogador: em 2/16 vezes ganharia de 3x0; 3/16 vezes ganharia de 3x1 e em outras 3/16 vezes ganharia de 3x2. A distribuição percentual para o vencedor, no cara e coroa, é de 25% (3x0), 37,5% (3x1) e 37,5% (3x2). Mas na vida real o jogo é bem diferente.
Quem ganha o primeiro set não avança apenas na árvore de probabilidades binárias. Ele produz um aumento de chances de ganhar os próximos sets. Isso ocorre por causa de dois fatores. Em primeiro, se ele ganhou o primeiro set, talvez isso seja um sinal de que ele realmente esteja jogando melhor do que seu adversário nesse dia em particular. Em segundo, ao ganhar o primeiro set ele tem sua moral elevada e rebaixa o ânimo do opositor, ganhando pontos percentuais preciosos de chance de ser bem sucedido na partida. No jogo real, as chances mudam pra 36% (3x0), 34% (3x1) e 30% (3x2). Claro que isso muda de jogador pra jogador e é nesse ponto reside o lucro.
De volta ao cara e coroa, a chance de alguém vencer o primeiro set e vencer o jogo é de 11/32 (34,375%), enquanto vencer o primeiro set e perder o jogo é de 5/32 (15,625%). Na prática, no entanto, o percentual sobe no primeiro caso e desce no segundo caso.
Parece intuitivo que haja tie-break num jogo com tamanho equilíbrio. Mas não é verdade. Num set isolado, a chance de que ocorra é um pouco maior do que 1/4. No jogo inteiro, aproximadamente 1/2.
No cara ou coroa, a chance de não haver um quarto set é de 1/4. Na vida real do tênis, é de mais de 1/3 (36% para ser exato).
Por fim, um último dado interessante: a probabilidade de ocorrer mais de 9 games em um determinado set é de 56%.

Tênis: apostas nos games

Podemos imaginar que um game seja decidido nos moldes de um jogo cara ou coroa. Isso não é normal, porque é óbvio que o sacador tem vantagem, mas acontece. Quando um jogador é aproximadamente dez vezes melhor do que o outro (uma probabilidade de 90% de ganhar a partida) e vai receber o saque.
Nesse caso, é fácil fazer uma árvore de probabilidades. Em 1/16 o melhor jogador fechará o set deixando seu adversário com zero. E vice versa. Em 1/8 das vezes quem ganhar deixará o outro com 15. Em 5/32 o ganhador deixa o perdedor com 30. E em 10/32 das vezes o jogo fica em deuce, empatado. Em resumo:
Game x 0: 1/16
0 x Game: 1/16
Game x 15: 1/8
15 x Game: 1/8
Game x 30: 5/32
30 x Game: 5/32
40 x 40: 10/32
Mas o jogo normal, sem grandes discrepâncias, apresenta outros números. Em jogos equilibrados, com dois jogadores do mesmo nível, a chance do sacador converter um ponto (seja no primeiro ou no segundo serviço) é de aproximadamente 62%. Em outras palavras, quem defende o saque tem a chance de fazer o ponto 38% das vezes. Os resultados finais são os seguintes:
Game x 0: 14,8%
0 x Game: 2,1%
Game x 15: 22,5%
15 x Game: 5,2%
Game x 30: 21,3%
30 x Game: 8,0%
40 x 40: 26,2%, sendo 19,0% para o sacador e 7,1% para o sacado. Note que nos empates nos games, a chance do sacador ganhar é de 72,3%, enquanto a do sacado é 27,3%. No cômputo geral, temos 77,6% de chances do sacador converter seu game e 22,4% de perdê-lo. Tudo isso sem imaginar o impacto das variáveis psicológicas que, como sabemos acentuam a probabilidade de que o próximo ponto seja parecido com o anterior (ou seja, há dependência temporal).

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Distribuição de Poisson no futebol

Muitos sugerem estudar a distribuição de Poisson para entender os números de gols, cestas ou pontos nas apostas esportivas. O problema é que a distribuição dos tentos não é homogênea ao longo do tempo. A função de distribuição irá assumir tal homogeneidade. Por isso é importante ficar atento para os desvios a direita da probabilidade de ocorrências  ao longo do tempo de jogo. Os noventa minutos de futebol não são iguais. Quanto mais passa o tempo, maior a probabilidade de ocorrência de gols por minuto. De qualquer forma não é fácil explorar tais informações de forma lucrativa, porque as casas de apostas conhecem muito bem as distribuições corretas.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Comentários sobre o resultado de abril de 2013

Entender o comportamento do investidor no Tesouro Direto, pra mim, sempre foi um mistério que poucos economistas se dedicaram a desvelar. E continua me intrigando. Mesmo com todas as mudanças nos juros futuros, subidas e rotações, as preferências do investidor se alteram pouco. Desde o ano passado, dificilmente caem pra menos de 60% de participação os títulos com mais de cinco anos e atrelados ao IPCA. São títulos mais arriscados que as LFTs, mas continuam muito populares. Talvez o que explique isso seja a percepção (equivocada) dos investidores de que esses títulos embutem menor risco, por se tratarem de prazos longos e presença de indexação. Também entendo que muitos investidores acreditam que aplicar em títulos públicos de longo prazo é uma boa alternativa pra quem está fazendo seu pé de meia pra a aposentadoria.

Bar dá lucro?

Será que abrir um bar dá lucro? Essa é uma dúvida muito popular, porque muitas pessoas gostam do negócio. Vale fazer alguns apontamentos:
— Por ser uma atividade interessante, que garante, eventualmente, prestígio e popularidade para seus donos, isso significa forte competição, porque muitas pessoas, principalmente as mais ricas, que estão interessadas no status, não se importarão em terem pequenos prejuízos ou se verem forçadas a trabalhar em ponto de equilíbrio, sem lucros.
— A distribuição dos lucros entre os competidores é muito desigual. Alguns bares são bem sucedidos em captar uma clientela cativa durante muitos anos e conseguem margens de lucro altas. Enquanto isso, muitos bares simplesmente não conseguem formar clientela grande, mesmo após anos de funcionamento.
— Os custos de se manter um bar no Brasil são muito altos, em razão, principalmente, dos gastos trabalhistas em horários alternativos e do uso limitado dos caros imóveis comerciais disponíveis para esse fim.
— É um setor que sofre muito com a flutuação da economia, por ser uma área em que as pessoas cortam seus gastos rapidamente quando precisam.
As dicas podem ser facilmente enumeradas. Não abra esse negócio se você: 1- não possui uma rede ampla de contatos e proximidade com seu consumidor; 2- não tem capital suficiente para sustentar movimento baixo nos primeiros anos; 3- não gosta muito de bares; 4- não encontrou um bom ponto.
Talvez, para quem é novo no ramo, seja interessante montar um bar de bairro, pequeno, com o seu estilo, pra ver se você se adapta às exigências duras da vida de empresário do ramo.

Mankiw resume a visão dos economistas sobre o mercado acionário

Se Gregory Mankiw é muito bem treinado em algo esse algo pode ser a didática em economia. Ele resume muito bem os achados dos economistas sobre o mercado acionário dos últimos anos: i) o mercado processa informação rapidamente; ii) boa parte dos movimentos de preços não são facilmente explicáveis; iii) manter ações é uma boa estratégia; iv) diversificação é essencial; v) mesmo pequenos investidores devem investir globalmente.
O resumo é bom, mas é temerário ao dizer que assumir a volatilidade dos prêmios de risco e as ondas de otimismo e pessimismo de mercado significa admitir que os economistas ignoram o que move o mercado. Ora, assumir que os indivíduos são sempre os mesmos, congelados ou geneticamente determinados em suas preferências, é que seria uma posição ignorante.
As ações (stocks) refletem o lado humano da economia. Dinheiro sempre traz medo e esperança, alegria e tristeza. É o canal sentimental da economia, por mais frio que pareça falar do universo das moedas. E o ser humano varia, sim, e muito, conforme a cultura e o tempo. Quem tiver dúvida, basta lembrar-se da complexidade do século XX e de suas alternâncias de expectativas em relação à tecnologia, à cultura, à democracia, aos valores e à educação.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Kelly e o seu gênio difícil

Há uma propriedade no sistema de apostas de Kelly que deixa qualquer um confuso. Quando estudamos uma distribuição binomial simples, como em jogos do tipo cara ou coroa, o número de caras ou coroas, conforme repetimos o experimento em várias rodadas sucessivas, se distribui de modo normal. Por exemplo, com 64 rodadas, temos 1/64 de chances de só termos caras ou outros 1/64 de termos só coroas. 6/64 de termos ao menos uma cara e outros 6/64 ao menos uma coroa. 15/64 de ao menos duas caras e 15/64 de duas coroas. E 20/64 de termos três caras e três coroas. Tudo parece simétrico e isso nos traz a ilusão de que o mundo de Kelly é igual. Mas não é.
Ainda no jogo de cara ou coroa, suponha que você aposte 20% de sua banca inicial de R$ 10,00. Se perder você cai pra R$ 8,00 e se ganhar sobe para R$ 12,00. Você joga um total de 6 rodadas e na sexta rodada você terá os seguintes resultados: R$ 2,62 (1/64 das vezes), R$ 3,93 (6/64), R$ 5,90 (15/64), R$ 8,85 (20/64), R$ 13,27 (15/64), R$ 19,91 (6/64) e R$ 29,86 (1/64). Se você somar tudo e dividir verá que o seu lucro médio é igual ao montante inicial apostado. Mas a mediana é inferior a média. Note que nesse exemplo 42/64 das vezes você terá prejuízo e apenas 22/64 terá lucro (aproximadamente 1/3 das vezes). A distribuição dos resultados de seu bankroll não é mais normal. O valor mediano é inferior a média, os valores engordam a esquerda e afinam a direita.
Como se um vento leste assoprasse. O interessante é que a cauda dos lucros máximos se alonga. É aí que se fazem os raros milionários. Mas a grande massa dos apostadores fica com prejuízos razoáveis e não vê a cor dos lucros. Incidindo comissão líquida sobre os ganhos tudo fica mais difícil, é claro. E não adianta, reforce-se, aumentar o número de jogos por temporada: é apenas fazer o vento soprar mais forte na direção contrária. Para 50 jogos, a taxa de sucesso cai pra 1/4 das vezes; para 100 jogos, vai pra 1/8; 200 jogos, 1/15; e pra 600 jogos cai pra menos de 1% de temporadas bem sucedidas.
Pra minimizar os efeitos, você deve reduzir o percentual de Kelly a ser reaplicado. Reduzindo de 20% pra 10%, a taxa de sucesso pra 50 jogos sobe pra 1/3, de 100 pra 3/10, de 200 pra 2/10 e de 600 pra 1/10. A vida fica mais tranquilo, mas nem por isso vira moleza.
Brincando de Montecarlo (10000 temporadas de 300 jogos), usando como parâmetros uma comissão líquida de 5% pra casa de apostas, um percentual de Kelly de 10% e uma acertabilidade de 20% a mais da cotação líquida (1,10-1,12; 1,50-1,55; 4,0-4,3, 10-11,8), 1/3 das vezes você terá lucro, 1/3 terá prejuízo de mais de 90% dos seu bankroll inicial e 1/12 terá lucros maiores do que 10x seu bankroll. Se você subir o percentual de Kelly pra 12%, o prejuízo de 90% passa a ser em 3/7 das vezes. E com 16% de Kelly o prejuízo de 90% passa de 2/3 das vezes. Nesse último caso, o lucro só vem em 1/6 das vezes.
Se você tiver coragem e apostar muito, sua comissão pode cair pra 2%. Mas é muito provável que sua acertabilidade, pela grande quantidade de apostas, também caia. Imaginando que seja reduzida pra 10%, um percentual de Kelly de 20% o lucro emerge menos de 1% das vezes. Reduzindo pra 12%, o lucro aparece no mesmo valor percentual, 12%, das temporadas e você leva pra casa pouco mais de 3% de chances de conseguir decuplicar seu capital inicial. Para dobrar suas temporadas com lucro, precisa reduzir o percentual apostado pra 8% e a vantagem é que provoca poucas alterações nas chances de decuplicação. A bom é que você reduz de 2/3 pra 1/3 as chances de temporadas com prejuízos maiores do que 90% do seu capital inicial. Reduzindo ainda mais o percentual aplicado, pra 5%, 1/3 das temporadas você chega no lucro e reduz ainda pouco a chance de decuplicar o capital (2,5%).

Não há reis longevos na terra da variância

Quando se fala em risco se pensa em variância. As pessoas tornam-se ricas ou pobres nesse país estranho. Geralmente mais pobres do que ricas. Faça suas simulações. Você não precisa ser um gênio da matemática para criá-las. Um programa como o Excel e uma macro relativamente simples fazem o serviço pra você. E os resultados são sempre assustadores. Você precisa ser realmente muito bom pra superá-la, deixar pra trás seus concorrentes, saber selecionar muitíssimo bem suas apostas e não se assustar com as sequências de derrotas estranhas.
Investimentos de risco realmente podem fazer milionários e é isso que mantém a indústria. Os novos ricos se acham superiores, melhores e mais espertos, mas na grande maioria das vezes, pelo menos entre aqueles que jogam honestamente, estão contando com a sorte e não sabem. Mesmo que tudo esteja certo, não se engane, lembre-se que tudo pode ser uma enorme ilusão construída, tijolo a tijolo, pelas mãos caprichosas da aleatoriedade.
Como as pessoas subestimam o bankroll necessário para investimentos de risco, de forex às opções, de apostas esportivas ao poker, a maioria dos incautos quebra e joga a toalha várias vezes, até desistir da soberba e se tornar, humildemente, um amante do risco recreativo. Mas essa caminhada pode custar caro. Em suma, não largue seu emprego para viver de risco. O normal, a regra e não a exceção, é perder tudo cedo ou tarde. Talvez o mais saudável seja acalmar as ambições e levar como uma brincadeira. E pode ser, quem saberá, que algum dia o jogo te surpreenda, torne-se sério e lucrativo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Quantas units preciso em meu bankroll?

Imagine que você seja um jogador medíocre e em jogos do tipo cara ou coroa acerta apenas 50% das vezes. Mas você tem juízo e paga apenas 5% de comissão de seus ganhos líquidos para as casas de apostas. Você aposta freneticamente e quer saber quantas units precisa ter na sua conta para não falir.
Você aposta em 10.000 jogos por temporada, toma um elixir da vida e aposta durante 300 temporadas. Temos um total de 3 milhões de apostas. E acha que é um valor suficiente para considerarmos como o longo prazo.
Nesse contexto, para não falir quase nunca você precisará de um bankroll de quase 800 units. Se você conseguir baixar sua comissão para 2% pode reduzir seu grau de exigência para 600 units. E na utopia de um mundo sem comissão baixe para 500 units. Pagando 10% de comissão, como muitas casas cobram, o melhor é esquecer, pois você terá lucro em menos de 3% das temporadas e para não falir terá de ter 900 units.
Mas vamos nos aproximar de novo mais ou menos da realidade. Você adora apostas ao vivo e faz em média 500 apostas por ano. É um bom volume para semiprofissionais. Além disso paga 5% de comissão e é um apostador afiado, escolhendo cotações em que você identifica erros líquidos de 10% (por exemplo, 2,42 ao invés de 2,60, 1,18 ao invés de 1,20). E você vai viver por 3.000 temporadas. Nesse caso o lucro médio da temporada gira em torno de 10 units e você precisa ter 100 units pra minimizar o risco de falência pra menos de 1% das temporadas. E você só verá a cor da bufunfa em 57% das temporadas (em torno de 1.700 de 3.000).
A brincadeira só passa a dar dinheiro pra valer quando você se torna o mestre dos magos e passa a apostar em jogos com erros líquidos de 20%. Nesse caso o lucro médio por temporada é de 40 a 50 units e você encerrará o ano no lucro 5/6 das vezes. Ademais, com 70 units de bankroll você garante 99% de sobrevivência nas temporadas e se quiser, por garantia, estender para 100 units, você ganha a imortalidade.
Claro que falar é fácil. Mesmo virando o mestre, são precisos muitos culhões pra segurar a adrenalina dos milhares. Pra lucrar R$ 100.000,00 por ano sua unit precisa ser de R$ 2.000,00 e o seu bankroll de R$ 140.000,00. Talvez você queira reduzir seu bankroll pra R$ 100.000,00, pra arredondar, nesse caso fique atento porque você vai falir em 3% das temporadas.
E nem falamos de variância por aqui.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Disciplina: onde está você?

A falta de disciplina, devo reconhecer, é um dos meus maiores problemas nas apostas esportivas. Tenho meus hábitos falhos, sou como um viciado em cigarros com preguiça de combater o seu vício. Adio toda semana meu programa de mudança de hábitos. São tantas práticas ruins que tenho até vergonha de admiti-las: tenho preguiça de ler as notícias esportivas, não enfrento os dados estatísticos de meu desempenho, desprezo o uso das agendas, não verifico a programação televisiva, postergo os estudos esportemétricos, relaxo minhas regras de gerenciamento de bankroll, misturo apostas por lazer, aposto em esportes que não entendo nada por mera curiosidade, sou motivado não pelo lucro mas por ter ligado a televisão e não ter nada pra fazer, caio em pegadinhas da imprensa comprada defendendo algum time, me rendo a análise ruim de comentadores idiotas, não sigo minhas regras de ouro, abandono apostas ao vivo por preguiça de cancelá-las, não suporto derrotas injustas, deixo um dia ruim me abater.
Um bom programa disciplinar deve incluir:
— Ler as notícias diariamente, uma única vez, no começo ou no final do dia. Se você olhar muitas vezes, como muitos fazem, pode desfocar de sua atividade finalística. Abra uma exceção para os jogos ao vivo que acusarem mudança de cotações, para saber se há algo novo antes de apostar.
— Escrever na sua agenda a programação televisiva que você irá acompanhar e os principais eventos esportivos do dia. Desse modo você evita o mau hábito de decidir onde apostar zappeando os canais esportivos.
— Reservar um dia, de preferência segunda-feira, para estudos de suas estatísticas de desempenho e para aprofundar-se em esportemetria. Você precisará de mais tempo do que apenas um dia por semana, é claro, até desenvolver suas metodologias.
— Se você usar o sistema de apostas de valores por units fixos, se ater ao seu estudo de risco e cogitar a hipótese de não alterar a quantidade de units em apostas diferentes. A vantagem é que você pode usar softwares ou opções nos sites de apostas que pré-estabelecem a quantidade apostada. Dessa forma você evita a tentação de mudar, pra baixo ou pra cima, o valor apostado e ficar confuso com as oscilações.
— Se você o sistema de kelly, ser religioso no percentual aplicado e só alterar tal valor após determinado período (por exemplo, no começo do trimestre ou no começo do mês).
— Anotar e colecionar os nomes dos comentadores e analistas esportivos que você confia e aqueles que despreza.
— Ser realista na administração de seu tempo. Quando você começa a pesquisar ligas de futebol do Azerbaijão, da Guiana ou de Cingapura pode ser um sinal que você está desfocado. Se você tentar abraçar o mundo com certeza fará um outro apostador feliz ou uma casa de apostas ainda mais rica.
— Só manter uma aposta ao vivo se você estiver ao vivo.
— Criar uma oração em que você reafirme seus princípios e compromissos com as apostas esportivas (Eu me informarei antes do jogo, me concentrarei ao vivo, serei fiel às regras de gerenciamento de bankroll, aceitarei as derrotas como normais, focalizarei minha atenção nos esportes e campeonatos que conheço, me comprometerei ao estudo contínuo e manterei um diário). Repita essa oração quando acordar e se deitar.


Seja rápido na inversão de seu raciocínio

É difícil explicar as raízes humanas da teimosia. Talvez ela ocorra porque é dolorido admitirmos o erro: pode ferir nossa autoestima. É gostoso pensarmos que estamos sempre certos e vivendo sob as melhores condições possíveis. Mas é péssimo para as apostas esportivas. A teimosia cobra um preço alto em nosso desempenho.
Você precisa treinar mudar de opinião rapidamente. Tente fazer exercícios cotidianos. Decida algo (a cor de uma roupa, uma comida, um programa de televisão) e se obrigue a alterar sua escolha dez minutos depois. Diminua esse tempo paulatinamente, todos os dias, até fazê-lo o mais rápido possível. É preciso não misturar a capacidade de decidir por um caminho diferente da mera confusão ou indecisão. É preciso estar a postos para a busca permanente de alternativas, de modo ligeiro.
Eu, confesso, não sou bom nisso. Costumo ficar congelado em decisões passadas e, mesmo vendo o barco afundar, fico torcendo para que o óbvio não ocorra. Quando o castelo começa a desmoronar você não pode ficar assistindo a destruição de dentro de seu camarote. Precisa reagir. Uma reação rápida é sinal de esperteza e inteligência.
Claro que falar é fácil. A maioria dos processos mentais nas apostas é semelhante à história do sapo que morre num caldeirão de água quente aquecido aos poucos e não é capaz de reagir perante as pequenas gradações de acréscimo de calor. Nas apostas, a gente perde aos poucos. É necessário um treinamento mental rigoroso para aprenderemos a reverter decisões rapidamente. Isso é bem mais difícil do que tomar decisões rápidas quaisquer e à esmo — algo que pode envaidecer. Mas reconhecer o erro, de instantâneo, não envaidece ninguém, pelo contrário, apenas nos humilha e nos lembra o quão difícil é a vida e quão burros nós somos na realidade, ao repetirmos pela enésima vez o mesmo erro. Pode ser duro para a alma, mas é muito bom para o bolso. 

Meta-análise de maio de 2013

As carteiras mudaram um pouco mais do que o normal em maio, em um movimento inverso ao mês anterior, aumentando, agora, o espaço para as blue chips.
A Ativa, que tinha resolvido entrar na bolha das faculdades no mês passado, excluiu AEDU abrindo espaço para AMBV3, ao lado das persistentes LREN3, ITUB4 e VALE5 e da experimentação com KLBN4. Chama a atenção a persistência da mineradora, o que também ocorre na carteira da Octo, que a manteve junto de BVMF3 e ITUB4, recuperou SUZB5 do mês retrasado e aumentou a exposição às blue chips, incluindo AMBV4 e retirando KROT3 e EZTC3. As duas carteiras promoveram mudanças semelhantes.
A Santander acredita com muita fé em suas apostas. É a única corretora que ainda manteve CSAN3 e KROT3, ao lado de PCAR4, ITSA4 e EZTC3.
A Souza Barros, que no mês passado havia fugido de ações que o mercado às vezes considera caras, como AMBV3 e TOTS3, e tinha acrescentado opções perigosas como OIBR4, levou um tombo no desempenho de abril que pode comprometer seu ranking no ano. Excluiu a telefônica e um banco, para montar a carteira com CTIP3, ARTR3, BRFS3, CIEL3 e RENT3. Parece uma aposta gráfica, talvez não muito "sadia", tendo em vista o crescimento forte da Brasil Foods e da Cielo no mês que se passou.
A Totus, apesar da queda em abril, manteve-se na carteira da Planner, compartilhada com BRPR3 e TAEE11, além das recém introduzidas ITUB4 e ALSC3, no lugar de ações de mercado interno, como SMTO3 e CRUZ3.
A carteira da Citi passou por uma revolução. Manteve apenas ITUB4, excluiu BRFS3, CCRO3, EVEN3 e TIMP3, para abrir espaço para PETR4, CSAN3, LPSB3 e TBLE3. A mudança em prol de small e medium caps é curiosa, tendo em vista a tradição de poucas apostas da Citi e a contramão do mercado nesse mês.
Também ouve revolução na SLW, que só manteve DASA3, para não assustar com tantas trocas, e trouxe BBAS3 (no lugar de Bradesco), MYPK3, BEEF3 e BRML3.
A Bradesco montou uma carteira pra mostrar que não tem medo de ações caras: incluiu, no mesmo lote, HYPE3, RADL3 e ESTC3, ao lado de blue chips como BVMF3 e GGBR4, para amenizar.
 A Geração Futuro, acertou a mão no mês passado ao congelar sua carteira e, talvez por isso, só trocou LREN3 por RAPT4, junto de ITUB4, KROT3, CIEL3 e UGPA3.
Quanto a XP, a verdade de suas apostas especulativas se mostrou no mês passado, com o pior desempenho mensal que anulou os bons ganhos anuais. Baixaram a bola e diminuíram as maluquices. Agora até parece uma carteira comum: ITUB4, PETR4, VLID3, BRML3 e CGRA4.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Apostando contra arbitradores

Nas casas de apostas, os ajustes iniciais das cotações devem ser os mais rápidos possíveis para os donos do negócio não perderem dinheiro. É claro que geralmente as comissões são tão altas que mesmo uma administração passiva consegue ter lucro. Outras vezes, para quem faz arbitragem, algumas casas simplesmente não honram seus compromissos.
Uma estratégia possível de ser explorada é oferecer cotações eventualmente fora do equilíbrio para lucrar com os investimentos dos arbitradores. Imagine uma casa, a Bobobet, que oferece a cotação 3.60 para um time cuja cotação real, de equilíbrio, seja de 3.40. Lembre-se que você tem de pagar 5%  de comissão sobre os ganhos líquidos, que neste caso serão R$ 0,12 a cada R$ 3,40 ganhos. Nessa situação você pode oferecer cotações no intervalo de 3.53 a 3.59 a favor, aguardando que alguém aposte contra para se aproveitar de alguma oportunidade de arbitragem. Não se esqueça que o arbitrador também terá de pagar sua comissão. Se for de 5%, em uma aposta de 3.60, terá de pagar R$ 0,02 aproximadamente. O que nos resta, portanto, é um intervalo pequeno para explorar (de 3.53 a 3.57), mesmo para uma aparentemente grande diferença entre as cotações.
É importante, para quem abarcar esta estratégia, saber reduzir suas comissões pagas até o mínimo possível. É preciso saber calcular corretamente a comissão paga para não comprometer seu lucro de longo prazo.

Montando a curva de velocidade das apostas acumuladas

As apostas ocorrem em um período de tempo delimitado. São lançadas pelas casas de apostas poucos dias antes dos eventos e só acabam quando há o apito final. É importante ter ciência de onde você está se metendo. É preciso conhecer como o volume de apostas se comporta com o passar do tempo. Aprenda a responder a tal pergunta e achar os seguintes coeficientes, o volume médio e o volume esperado de apostas para determinado jogo, para que possa identificar alguma atipicidade.
Em tempo, é preciso dizer, é claro, que o objetivo do apostador é sempre detectar alguma anomalia no mercado para se aproveitar dela. Os índices de volume variando no tempo, uma medida de velocidade, te permite acompanhar as estranhezas. Mais questões precisam ser respondidas: será que o volume de apostas ao vivo é condizente? Houve algum percentual incomum de apostas antecipadas? (por exemplo, um dia antes do evento esperado já houve um acúmulo muito alto de apostas). A mudança dos volumes esperados foi acompanhada de mudanças nas cotações? Se houve ajuste nos preços de equilíbrio, eles foram a causa ou a consequência das alterações nos volumes?
O volume geralmente é uma variável subestimada na análise dos mercados financeiros. No mundo das apostas esportivas não é diferente. Poucas pessoas sequer prestam atenção nele. Para a maioria é como se não existisse. Aproveite essa miopia do mercado a seu favor.

Lucrando com preços de equilíbrio estáveis e grandes volumes

Imagine uma situação em que as cotações parecem congeladas, algo como 1.43 a favor e 1.44 contra ou 1.08 e 1.09. Você já acompanhou os gráficos para identificar alguma tendência, mas não encontrou nada de interessante. O que fazer agora? Uma simples estratégia é ter paciência e ficar na fila.
Faça uma aposta a favor de 1.44 e contra de 1.43 e aguarde o fechamento dos negócios. Mas você necessita tomar alguns cuidados. Jamais deixe a aposta aberta, pois caso contrário a comissão paga arruinará seu negócio no longo prazo. A tentação de deixar a bola rolar para ver o que acontece por certo significa prejuízo. Se o mercado se mexer para o lado errado, também cancele a aposta o quanto antes. Parte de seus lucros serão necessários para pagar os movimentos inesperados do mercado.
Use indicadores de circulação de apostas para saber se o tamanho da fila é ou não é impeditivo. A ideia é descobrir se a sua fila anda rápido ou devagar. Simplesmente divida o montante total já apostado pelo montante presente na fila, a favor e contra, na sua cotação de equilíbrio, no caso de jogos com cotações baixas e mais estáveis. No caso de jogos com cotações altas, como 1.8 ou 2.0, convém somar as propostas de a favor e contra adjacentes, aproximando-as ao valor de equilíbrio como uma medida de circulação do mercado.

Como apostar em gaps

Certos jogos, geralmente os de baixa ou média liquidez, possuem gaps grandes entre as opções de apostas a favor (back) ou contra (lay). Imagine a seguinte situação: 1.42 a favor e 1.56 contra. Nesse caso, você pode inserir duas apostas: a favor, 1.55 e contra 1.43. Caso as apostas se concretizem, você consegue um lucro bruto de 12 pontos. Claro que não é tão fácil quanto parece, pois a tendência, quando se aproxima a partida, é o gap se fechar aos poucos até chegar à cotação de equilíbrio, sem que tenha havido um número significativo de apostas no intervalo.
Para achar a cotação de equilíbrio utilize uma casa de apostas grande, como Bet365, Bwin ou Pinnacle e aplique a comissão implícita cobrada. Existe, necessariamente, lucro no longo prazo na operação de fechar gaps, salvo se houver erro sistemático na modelagem das casas de apostas. Porém se você descobrir tal erro, fazendo os corretos estudos estatísticos, pode aproveitá-lo para seu próprio benefício.
Podemos, para nosso auxílio, criar um índice para mensurar a qualidade do gap:
QUALIDADE DO GAP= Variação da cotação x Totalização do montante apostado x Raiz cúbica do valor absoluto.
A variação da cotação é simplesmente uma medida de distância entre as cotações, mensurada num intervalo de 0 a 1 (simplesmente use as probabilidades das cotações para seus cálculos). A totalização do montante apostado também ocorre num intervalo de 0 a 1, sendo 1 o total apostado antes do início do jogo. Ademais usamos a raiz cúbica do total apostado com o intuito de preferir jogos com um volume absoluto de apostas grande, pois nesses casos as probabilidades de convergência para as cotações de equilíbrio são muito maiores.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não desanime com infortúnios no final do jogo

Acontece comigo e deve acontecer o mesmo com todos os apostadores amadores. Você acompanha a partida inteira e tem a certeza de que sua aposta foi um bom negócio. O seu time escolhido corresponde às suas expectativas e o time adversário não apresenta perigos. Você fez algum tipo de aposta de que não pode ocorrer mais gols e se alivia quando chegam os 35 minutos do segundo tempo e tudo parece encaminhado. De repente surge um gol e seu castelo de cartas desmorona.
No final é que mora a ilusão. Não se esqueça que a probabilidade de ocorrência de um gol, nesse momento (após 80 minutos de jogo), é de aproximadamente 30%, ou três em cada dez jogos. Mesmo aos 40 minutos do segundo tempo não é hora de comemorar: 16% das partidas assinalam gols após esse período.
O problema que eu quero apontar é o custo psicológico desses gols, que só é piorado quando não conhecemos de cor as estatísticas corretas. Um gol no final da partida é um golpe no coração de qualquer apostador. Eu,em particular, me sinto triste e injustiçado. Atribuo unicamente tais gols ao meu azar, mas é raro quando me lembro que esses gols já aconteceram quando eu precisava deles e tive, então, sorte. O perigo é a desestabilização mental, tão cara aos apostadores.
Se você não for capaz de aceitar os gols finais, uma boa alternativa é encerrar suas apostas aos 35 minutos do segundo tempo. Os oitenta minutos de jogo, a essa altura, já devem ter sido suficientes para comprovar se seu palpite era bom ou ruim. Mas se você gosta de adrenalina, sugiro que estude com afinco as estatísticas específicas dos minutos finais, que parecem guardar segredos e revelar regras próprias.

domingo, 14 de abril de 2013

Carteira recomendada para abril de 2013

Para abril, as corretoras parecem aprofundar as estratégias já comentadas do mês passado: persistência no mercado interno e redução do espaço para as blue chips.
A Ativa resolveu apostar na celulose e se render à bolha das faculdades, incluindo KLBN4 e AEDU, ao lado de LREN3, ITUB4 e VALE5. Chama a atenção a persistência da mineradora, o que também ocorre na carteira da Octo, que a manteve junto de BVMF3, trocou BBDC4 por ITUB4, BRML4 por EZTC3, descartou a celulose de SUZB5 e também se rendeu ao ensino superior com KROT3. A Vale enfim saiu da carteira da Santander, dando lugar a RAPT4, ao lado de PCAR4, KROT3, EVEN3 e CSAN3. É a única corretora que ainda manteve a Cosan.
A Souza Barros fugiu de ações que o mercado às vezes considera caras, como AMBV3 e TOTS3, manteve ARTR3, ITUB4 e RENT3, sugestões seguras, mas acrescentou as temerárias CTIP3 e OIBR4 (esta já fortemente punida no primeiro terço do mês). A Totus entrou na carteira da Planner, compartilhada com SMTO3, CRUZ3, BRPR3 e TAEE11.
A carteira da Citi só tirou a cerveja da mesa pra servir a comida da BRFS3, acompanhada por CCRO3, EVEN3, ITUB4 e TIMP3. Por certo, continuam aguardando a recuperação das telefônicas. A Bradesco se rendeu às small caps, exceto por BVMF3: ALPA4, RADL3, DIRR3 e ESTC3. Os três últimos papéis são apostas de correção de preços, tendo em vista que caíram com força no mês passado. Em mesma linha, a SLW só manteve, entre as grandes empresas, BBDC4, para concentrar sua carteira em medium caps, como AEDU3, RAPT4, DASA3 e DTEX3.
A Geração Futuro, levemente abaixo de zero no ano, resolveu assumir e congelou sua carteira: ITUB4, KROT3, CIEL3, UGPA3 e LREN3.
Quanto a XP, até agora a líder entre as carteiras publicadas pelo Valor, talvez tenhamos de dar o braço a torcer, como dizem. Possivelmente eles têm conseguido, pelo peso de seus clientes, mover o mercado. Mas a carteira continua bastante especulativa: PDGR3, BRML3, FJTA4, BVMF3 e CGRA4.



terça-feira, 5 de março de 2013

Apego ao lucro e o underbetting

De repente você se dá conta que está batendo seus recordes. Sua sequência de vitórias não pode mais ser contabilizada pelos dedos de suas mãos. O valor de sua aposta típica é o mais alto no ano. As apostas parecem cada vez mais fáceis. Com frequência você se loga apenas pelo prazer de ver seu saldo polpudo.
Súbito, você sente medo. Queria permanecer no estado de graça das estrelas vitoriosas para o resto de sua vida. Mas sabe que tudo é passageiro e o amanhã pode ser muito diferente. Sua mente trava, as ideias não fluem mais como antes. O teclado numérico fica pesado e você começa a questionar se o valor de sua aposta é mesmo o mais correto. Sua cabeça se perde, você se desconcentra na busca pelas apostas mais favoráveis e perde tempo com devaneios diversos. Ao invés de buscar notícias que possam te ajudar, perde tempo buscando passagens aéreas para o Caribe. Quando assiste aos jogos, não fica de olho na bola, mas deixa sua vista vagar no horizonte a procura do que fazer com tanto dinheiro que você ainda não ganhou. Você sofre uma derrota, fica alerta de novo mas se sente como um náufrago no oceano, impotente e enfraquecido. Passa a adiar novas apostas e entra num quadro de underbetting: faz um volume de bets inferior ao ótimo.
Sair do underbetting não é fácil. Não basta simplesmente aumentar, à força, o volume de apostas, pois nesse caso você foge do equilíbrio e cai no overbetting. É preciso restaurar o equilíbrio emocional, buscar disciplina e definir métodos que tornem explícito o enquadramento ou não de uma aposta.

O Ciclo Confiança-Derrota

A psicologia das apostas esportivas, como todos sabemos, é muito complexa. A frequência variável de apostas é um dos fenômenos mais difíceis de administrar.
Em tese todos nós sabemos que você só pode escolher as melhores oportunidades para ser lucrativo. Precisa selecionar o joio do trigo. Apostadores iniciantes demoram a aprender isso, porque o prazer de apostar dificulta a decisão de omitir uma aposta. Mas o problema de overbetting também afeta os mais experientes. Mesmo conhecendo o problema, ele ataca de forma sorrateira.
Você é experiente e escolhe cuidadosamente suas apostas, prévias ou ao vivo. Já provou ter lucro consistente várias vezes seguidas e sabe que tem de zelar por seu lado emocional. Você está numa sequência longa de vitórias e aos poucos, sem notar, começa a ter confiança exagerada e aposta em muito mais jogos do que deveria. Se você tiver sorte, a aleatoriedade não te trará nem lucros nem prejuízos e você lembrará das pedras do caminho dourado. Se tiver azar, você pode perder vários jogos seguidos, surtar, tentar caçar os resultados (chase) ou apelar para martingales, levando-o a ruína rapidamente se não for capaz de se recobrar a tempo. Você precisará de serenidade para conseguir, mesmo no campo negativo, selecionar apenas as boas oportunidades. Meditação e um reforço no raciocínio analítico são como canja de galinha: talvez não curem sua doença, mas por certo não vão piorá-la.
Monitore-se e crie um sistema de alertas emocionais. Só os números podem ser enganadores. Você precisa perscrutar sua alma para construir uma solidez positiva.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Carteira recomendada para março de 2013

 As mudanças feitas para o ano, pelas corretoras, surtiram efeito. Todas venceram o Ibovespa em fevereiro. As estratégias são as mesmas: aposta no mercado interno e fuga das blue chips desbotadas.
A Ativa continua pouca ativa: LREN3, CSAN3, ITUB4 e VALE5 continuaram e só entrou BRML3. A Santander também fez uma única mudança, tirando KLBN4 para abrir espaço para CSAN3, além de PCAR4, KROT3, EVEN3 e VALE5.
A Souza Barros tirou LREN3 e CCRO3 e está com AMBV3, ARTR3, ITUB4, TOTS3 e RENT3. O interessante é que as ações que aí saíram entraram na carteira da Planner, junto de SMTO3 e das que ficaram do mês anterior, MULT3 e TAEE11. Lembremos que as sugestões da Planner tem sido ruins já há algum tempo. E CCRO3 também está na carteira da SLW, que também começou mal o ano. Pelo menos tirou a Petro e rol de ações não está mais tão feio: além da concessionária, AEDU3, RAPT4, NATU3 e BRFS3. Mas fique de olho: outras duas corretoras tiraram a faculdade de suas listas. A Bradesco a excluiu, junto de Tim e Cosan, para formar uma carteira de BVMF3, ABCB4, RADL3, DIRR3 e HYPE3. E a XP, cada vez mais influente pela ação de seus soldados, também. A XP está com PDGR3, SBSP3, FJTA4, BBRK3 e CGRA4. As escolhas da XP são, muitas vezes, ilíquidas, mas se bem coordenadas podem dar certo.
A carteira da Citi, que também tem sua cota de influência, ficou no feijão com arroz (CCRO3, EVEN3, ITUB4, TIMP3, AMBV4). É a única que manteve a telefônica dos avatares. Uma decisão corajosa, porque a intervenção governamental ainda não parece ter terminado. E foi curiosa a troca de Bradesco por Itaú. A entrada da Ambev não vejo com bons olhos: parece que o melhor momento se foi.
Temos ainda as carteiras da Geração Futuro (ITUB4, KROT3, CIEL3, UGPA3 e LREN3) e da Octo (BRML3, BBDC4, SUZB5, VALE5 e BVMF3). Na primeira, chama a atenção a corajosa saída da Vale, opção acertada pelo que se viu nos dois primeiros pregões do mês das águas. Depois da derrubada paulatina da Petro e dos X talvez tenha chegado a hora da Vale. E não entendo as justificativas para apostar na BM&F.
Em relação as carteiras que não são divulgadas no Valor Econômico, mas no Infomoney, vale repassar as sugestões da Rico: VALE5, SUZB5, HBOR3 e BRML3, além de quatro papéis direta ou indiretamente ligados ao mercado financeiro: BVMF3, VLID3, ITUB4 e BBDC4. Uma aposta no mínimo estranha, pois, como sabemos, o impacto aguardado da Selic nessas empresas é bastante distinto.
Na carteira da Omar Camargo, chama a atenção a coragem de sugerir VAGR3. O resto dos papéis está em linha com outras corretoras. Por fim, na Geral, só foram trocadas ALSC3, NATU3 e LEVE3, abrindo espaço para AMBV4, ABRE11 e BRML3.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

As promessas de lucros extraordinários

Às vezes, apostadores são piores que pescadores. Adoram contar vantagem e exagerar em seus sucessos. Lucros de 100% ao mês parecem normais, qualquer um com um mínimo de inteligência parece ser capaz de dobrar seu pequeno stack inicial em menos de trinta dias. Em um dos fóruns em português, há até quem jura ter conseguido 859% em 19 dias e que garante que não foi um sucesso extraordinário.
Ora, vamos aos cálculos. Um ganho de 100% ao mês corresponde a um ganho, com juros compostos, de 409.500% ao ano (lembre-se que 2^12 é 4.096). Calculando os juros compostos em seguida de ano em ano, em 10 anos você estará com 1,32*10^39. Por certo, será a pessoa mais rica da galáxia.
Mas podemos supor que você apenas quer ser a pessoa mais rica do mundo e precisa de 50 bilhões para isso. Porém só tem mil reais no bolso, proveniente do FGTS que você recolheu depois de ser demitido por justa causa. E você só aguentaria esperar por dez anos para poder torrar a grana acumulada. Quanto você precisaria de rentabilidade mensal? Por ano são necessários 488,7% de rendimentos reais, o que dá aproximadamente 16% ao mês.
Em outras palavras, qualquer rendimento de 16% ao mês ou maior já o tornará o homem mais rico da terra em menos de uma década.
Mas vamos supor que você seja humilde e só quer transformar R$ mil reais em um milhão em um prazo de dez anos. Nesse caso, bastam singelos 5,9% ao mês.
Não se deixe enganar. Nenhum pescador conta histórias de quando não pescou nada. Elas não tem graça e não atraem a atenção de ninguém. Mas é o que acontece na maioria das vezes. Peixes grandes, exibidos como troféus, são poucos e cada vez mais raros. Por certo você pescará seus dourados e pirarucus de vez em quando, mas terá de se contentar com bagres ou lambaris no dia a dia.

Depois de um milhão

Todos sabem que um milhão não significa mais muita coisa nos dias de hoje. Ajuda bastante, é claro, mas está longe de ser considerado suficiente para alguém poder ser chamado de rico, como muitos desejam.
Se sua meta é conseguir 10 milhões em 10 anos a partir de um capital de R$ 1 milhão você precisará de um rendimento real anual de 26%. E mesmo assim não irá gastar o dinheiro depois do prazo, porque se você conseguiu tal crescimento, desejará esperar mais dez anos para embolsar cem milhões.
Se a meta for obter 20 milhões em 20 anos a partir do mesmo capital de R$ 1 milhão o desafio é bem mais fácil, 16% — esta é a taxa que muitas pessoas extraordinariamente bem sucedidas operam. Por certo, você não vai achar tal oportunidade em fundos de investimento listados em jornais ou disponíveis em seu banco. E prepare-se para alavancar seu capital algumas vezes e assumir muitos riscos.
O mundo real, no entanto, tem oferecido rendimentos de 3% a 5% ao ano. Em dez anos você chegará a um valor entre R$ 1,34 e R$ 1,63 milhão. Em vinte, 1,80 e 2,65 milhão. Mas se você cruzar uma época difícil, de baixo crescimento econômico e demografia declinante, ou de governos interventores, de graças se conseguir manter intacto o seu capital. Não é raro termos taxas de juros negativas. Aliás, é muito comum, para o desespero dos poupadores.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Os grandes prêmios lotéricos são aconselháveis?

A Mega Sena da Virada não foi uma novidade brasileira. No mundo inteiro, as loterias nacionais têm se dedicado, nos últimos anos, a sortearem, esporadicamente, grandes potes milionários cada vez maiores. Por aqui se estuda fazer a Mega Sena da Páscoa, também com o intuito de formar um pote enorme e atrair a atenção do público consumidor.
A princípio, parece uma ideia interessante. Mas sob o prisma das políticas públicas pode não ser. Do ponto de vista econômico, esses grandes prêmios são produtores de desigualdade. Por conta de serem mais difíceis de serem acertadas as combinações, os vitoriosos surgem em pequeno número, contados nos dedos das mãos. A promessa é se tornar podre de rico, ganhar sozinho a bolada e gozar de poder terreno como ninguém.
É difícil imaginar que muitas pessoas façam questão de ganhar R$ 400 milhões ao invés de R$ 4 milhões somente. Para a maioria de brasileiros, o prêmio menor possibilitaria uma renda vitalícia de R$ 10 mil por mês proveniente de rendimentos e a possibilidade de deixar o montante em sua integralidade para seus herdeiros. Pode-se argumentar que um bom apartamento, uma casa na praia, um título de um clube e um par de carros importados de luxo já custam mais do que isso. Mesmo assim, sem sair do razoável, R$ 10 milhões já seriam adequados para sustentar uma vida extravagante por um bom tempo. Valores maiores do que isso, em um país como o Brasil, são desnecessários. A pessoa nem teria o que comprar na maioria das cidades. Teria de se mudar para um lugar mais rico para acompanhar o consumo de bens de luxo, mas isso dificilmente aconteceria, pois a maioria das pessoas prefere ficar entre amigos e parentes.
Sob o aspecto da desigualdade, um ganhador de R$ 400 milhões é muito pior do que 100 ganhadores de R$ 4 milhões. E para o bem estar social também, porque tirou a possibilidade de 99 outros ganhadores realizarem seus sonhos, pagarem suas dívidas e ajudarem seus vizinhos e familiares. O tamanho do pote parece necessitar de alguma média. Não pode ser pequeno, como nas loterias instantâneas, pois a rentabilidade negativa não é compensada pela esperança de se obter uma resposta definitiva para os problemas materiais das pessoas. Mas não pode ser muito grande, pois surge como um prêmio desperdiçado. O dinheiro tem utilidade decrescente. Talvez ganhar R$ 4 milhões traga a mesma alegria e satisfação do que ganhar R$ 400 milhões. Nesse caso, a sociedade estaria melhor se conseguisse produzir outros 99 ganhadores.
Ademais, grandes prêmios parecem produzir mais efeitos negativos. De acordo com o Ministério da Saúde da Nova Zelândia (New Zealand Herald) houve um surto de crescimento de problemas de viciados em jogos de loteria nos últimos anos. Até então, os viciados em jogos se restringiam ao poker naquele país. Mas a promessa do pote milionário em 2009 em paralelo a uma economia em baixo crescimento fez crescer o problema. A causa, em princípio, está no impacto da grande publicidade que esses prêmios possuem e na comoção popular que produzem. Assim, acabam por atingir uma população vulnerável ao vício que estaria numa condição melhor se não fosse diretamente estimulada pelo jogo. No caso em tela, a possibilidade de fácil acesso por meio remoto às apostas parece também ter contribuído com o incremento dos viciados.
De qualquer forma, é difícil falar sobre a regulação das loterias, pois na maior parte das vezes o regulado é o próprio regulador, o governo. De qualquer forma, parece adequado, assim como fazem as empresas privadas que exploram os jogos de azar, alertar os consumidores sobre os riscos potenciais da atividade e criar mecanismos que possibilitam o bloqueio voluntário do jogo. É irônico que as empresas privadas ofereçam tais alertas e instrumentos de segurança, enquanto justamente o governo não apresenta nenhuma ação preventiva. A publicidade é necessária para a divulgação do produto e para que não seja danosa deve informar corretamente o consumidor sobre o que está efetivamente comprando e assumir os riscos solidários de prejuízos potenciais.

As loterias são justas?

Já há algum tempo os economistas tem se debruçado sobre a microeconomia da redistribuição. É um tema muito importante, porque ajuda a entender porque os governos democráticos são mais ou menos redistributivos. Via de regra o que se sabe é que as preferências variam de acordo com diferentes grupos sociais: i) os mais ricos tem aversão à distribuição; ii) as mulheres são mais favoráveis; iii) o efeito da educação, em geral negativo, é ambíguo por causa das ideologias de esquerda que favorecem; iv) é menos favorável naquele com expectativa de aumento de renda e otimista; v) negros a preferem mais do que os brancos, assim como os desempregados; vi) jovens e idosos preferem distribuição, quando comparado às pessoas de meia idade; vii) pessoas com histórico de dificuldades nos últimos anos (desemprego, doença, morte e separação) preferem a redistribuição; viii) ser de família religiosa favorece a redistribuição; ix) viver em contexto de crime e desigualdade também favorece; x) por último, depende de como as pessoas atribuem o sucesso, como se proveniente da sorte ou do esforço. Além da questão das escolhas, não se pode esquecer que mesmo os mais ricos podem defender algum grau de redistribuição, tendo em vista as externalidades educacionais e de segurança que produz.
As loterias se impõe como um desafio teórico para as modelagens microeconômicas. Se assumirmos que não há corrupção, pode-se dizer que são justas sob certo prisma, porque todos concorrem de forma igual. Pobres ou ricos, brancos ou negros, homens e mulheres todos são igualados pela aleatoriedade dos números. Por isso não se vê críticas de que alguém ganhou o prêmio injustamente. Como diz um dos motes da loteria brasileira, "para a sorte todo mundo é igual". A campanha publicitária da Caixa Econômica Federal, deste modo, abraçou a ideia de que apostar na loteria é uma ação livre da desigualdade e aberta a todos de forma transparente.
Mas a loteria é, em si, um instrumento de desigualdade. Ela piora o Índice de Gini, que avalia a má distribuição de renda, porque ao invés de aproximar o indivíduo sorteado para a média de renda da população, coloca-o, provavelmente, ainda mais distante do ponto central — ainda que em outra direção. De forma estranha, a loteria promove a desigualdade de forma justa, mesmo que por meio de um mérito curioso, a pura sorte.
A ideologia capitalista vende a ideia de que o sucesso das pessoas se baseia no trabalho e no esforço. O papo por vezes furado não convence e muita gente pensa diferente, acreditando que as pessoas que enriquecem ou se dão bem assim o fazem porque possuem algum privilégio — são herdeiros, têm cônjuges ricos, parentes abastados ou acesso aos círculos de poder, além da oportunidade e imoralidade de se corromperem — ou simplesmente são sortudas.
Como vimos, pessoas que atribuem o sucesso em um grau maior à sorte e não ao esforço são mais favoráveis a redistribuição. Nesse caso, seriam elas contra as loterias, por que são instrumentos de concentração de renda? Parece-me que não. Esse tipo de gente, é provável, é contra a injustiça mais do que a má distribuição dos recursos. Deseja-se redistribuir para consertar as injustiças do sistema. Mas se existe algum método legítimo de concentrar renda, talvez ele não seja condenável ou possa ser até mesmo desejável, desde que justo.
O mesmo raciocínio talvez possa ser estendido aos outros grupos sociais que são favoráveis a uma melhor redistribuição. Pobres, mulheres, negros, desempregados e jovens, por exemplo, podem preferir a redistribuição pela via da defesa de uma sociedade mais justa com oportunidades menos desiguais, e não por uma defesa da igualdade de renda dos cidadãos. A luta talvez seja pelas regras do jogo e não por seus resultados. Isso quer dizer que ao defenderem a redistribuição, estão, em verdade, defendendo melhores oportunidades de acesso a um grau superior na escala social. A loteria é uma oportunidade aberta a todos.
E o raciocínio inverso talvez seja válido. Brancos, homens, ricos, empregados e profissionais experientes são em maior grau contrários à redistribuição por concordarem com as regras atuais do jogo e as considerarem justas. Talvez esse grupo seja crítico das loterias, por promoverem um método de desigualdade baseado na sorte, que consideram inválido. Pessoas que acreditam nos méritos efetivos do seu sucesso não querem que alguém suba a escala social por pura sorte, por considerarem tal via "injusta", por mais estranho que tal argumento possa parecer, tendo em vista que qualquer um pode participar das loterias em condições iguais.
Novas pesquisas precisam confirmar essas hipóteses. Enquanto isso, resta-nos especular. Pessoas religiosas são a favor da redistribuição, mas provavelmente contra as loterias, por razões culturais. As religiões principais são críticas dos jogos e da vontade de alguém em enriquecer e ter sucesso. Mesmo assim podemos imaginar as vertentes neopentecostais afirmando a validade das loterias por serem justas e equivalentes a bençãos divinas.
Eu, particularmente, penso que a maioria das pessoas toleram bem a desigualdade de renda, em especial quando veem méritos nas diferenças. Aceita-se que alguém que trabalhe muito ganhe mais e tenha mais coisas do que alguém que trabalhe pouco e seja preguiçoso. São poucos aqueles que prefeririam uma igualdade rígida e as péssimas experiências de socialismo real apenas comprovam o lado ruim do rigor distributivo. Mas quase todo mundo quer ver um sistema justo. A sociedade se divide nesse ponto, pois achar que o mundo é justo depende muito de como você está inserido no sistema. Assim, a loteria, na opinião dos injustos, é um instrumento de concentração de renda justo .

As loterias poderiam ser subsidiadas?

Hoje em dia os prêmios das loterias são objeto de pesados impostos em todas as partes do mundo. A princípio, tal escolha de política econômica parece razoável, em linha e nos mesmos moldes da taxação sobre cigarros e álcool. A sociedade não quer, em tese, que as pessoas fumem ou bebam, porque desse modo elas podem trazer externalidades negativas — prejuízos que serão coletivamente distribuídos. Um fumante ou um alcoólatra cedo ou tarde ficarão doentes e o custo de seus tratamentos será incorporado pela rede de saúde pública e socializado. Além disso, outras pessoas não querem compartilhar o risco de estar ao lado de um bêbado ou cruzar a frente de seu carro, tampouco inalar a fumaça cancerígena dos cigarros. Mas o jogo é bem diferente e ainda assim é colocado junto aos demais vícios.
Nenhum jogador compulsivo traz prejuízos diretos para o estado e a comunidade. O único prejudicado é ele mesmo. Pode-se argumentar que alguém descontrolado traz problemas para a família e, portanto, o jogo deveria ser banido, mas é um argumento fraco, pois a sociedade, então, deveria ajudar a família e não interferir na vida do jogador. Pessoas briguentas, ex-presidiárias, desvairadas e indolentes também prejudicam a família, mas nem por isso a coletividade se propõe ajudar seus dependentes. A discussão irrompe numa querela entre direitos individuais e responsabilidade social da família, que dificilmente produz uma resposta convincente. Assim, é difícil sustentar, do ponto de vista técnico e filosófico, a proibição do jogo e por isso a maior parte dos estados os estimula por meio de um monopólio institucionalizado por argumentos tortos.
A função social da loteria é subestimada e raramente é motivo pra conversa. Você não precisa se debruçar sobre pesquisas oficiais de orçamentos familiares para descobrir quem são as classes que mais apostam e fazem suas figas. Basta se dirigir às filas de uma lotérica e analisar o perfil dos desesperados e dos esperançosos. Não são senhores de terno, empresários bem sucedidos pendurados no celular ou médicos vestidos de branco em intervalo de seus turnos. É o povão, como se diz. Mães que buscam um futuro melhor para seus filhos, avós altruístas, desempregados em desalento, fracassados, deprimidos e todo tipo de trabalhador que sabe que jamais conseguirá comprar uma casa ou um carro bom como aprendem ser o correto todo dia nas propagandas de telenovelas. Em suma, a loteria é a última saída, para não dizer a única saída para quem analisa e vê que o sistema é injusto e oferece poucas chances de subir seus degraus de mármore.
Economistas se acostumaram a achar que jogadores de loteria são burros, porque aceitam um retorno esperado de seus investimentos baixo e negativo. Mas esse é o preço da esperança, o custo para manter abertas as chances de uma vida melhor e correta. Todos, em maior ou menor grau, conhecem as probabilidades. Sabe-se que ganhar é um evento raro. Mas não há outras opções à vista e é preciso agarrar as oportunidades quando aparecem. Por isso tanta gente comparece às novenas lotéricas, afinal, o importante é não perder a fé.
Um governo de viés socialista, como a maioria dos latino-americanos de hoje em dia, que propõe, de forma recorrente, ações afirmativas e redistributivas, poderia reverter suas alíquotas incidentes sobre as loterias. Faria um bem social e ajudaria os mais pobres, que são penalizados atualmente pelos impostos regressivos na jogatina.
Atualmente 20% da arrecadação é destinado às despesas de custeio e manutenção de serviços. O governo poderia subsidiar esse valor sem maiores consequências para a estrutura dos jogos. O prêmio líquido poderia ser equivalente a 100% da arrecadação. Dessa forma, não haveria regressividade nos tributos, porque seriam eliminados. Também não seriam os pobres que custeariam as lotéricas, que hoje atuam como correspondentes bancários mas que dependem dos recursos arrecadados como taxas de administração dos jogos.
Um subsídio maior que as despesas seria, no entanto, mais complexo de ser implementado. Imagine que o prêmio líquido fosse equivalente a 120% da arrecadação. Nesse caso, pessoas ricas com baixa aversão ao risco seriam capazes de cobrir todas as combinações possíveis e, ganhando por certo, fariam a loteria perder sentido e ser destituída de sua função social.
Ainda assim, poderiam ser criadas regras que limitassem o volume de apostas por jogador. Isso não seria tão difícil de ser desenvolvido. O sistema hoje já possui o controle de todas as apostas que são feitas e seria simples exigir o CPF dos apostadores e vincular o prêmio exclusivamente ao apostador e não à posse do bilhete, como acontece hoje.
Cada pessoa teria um limite para apostar a cada concurso. Além de limitar a ação de jogadores compulsivos e impedir a entrada de oportunistas, não prejudicaria a população de baixa renda que geralmente faz jogos de custo baixo. Desse modo, a função social da loteria seria garantida e a grande maioria dos jogadores não seria importunada pelas limitações de gastos.
Ora, em última instância o governo nem precisaria de uma estruturada administrativa sofisticada para arrecadar as apostas. Se assumirmos que o importante para as pessoas é participar de uma chance aleatória, e que não há utilidade subjacente ao ato de acertar os números pelo simples prazer de tê-los adivinhado (imaginando um cenário de apostas sem dinheiro), então o governo poderia abolir todo o sistema e elaborar uma premiação periódica baseada no CPF das pessoas. O valor do prêmio seria equivalente a quantia necessária para garantir uma renda vitalícia para o sujeito nos padrões de classe média alta — algo na faixa de R$ 10 mil por mês ou um prêmio único de R$ 4 milhões (similar ao valor mensal se assumirmos um rendimento de 3% ao ano). Tal programa custaria aos cofres públicos pouco mais de R$ 208 milhões ao ano, valor de 1/3 de um estádio de futebol para a Copa do Mundo. E, mesmo  promovendo a desigualdade, seria justo, por mais contraditório que isso possa soar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carteira recomendada para fevereiro de 2013

Um mês de poucas mudanças nas carteiras recomendadas. As alterações ocorreram para tornar as carteiras cada vez mais parecidas. Isso significa que pode ser arriscado querer inovar: ao menos em tese todos estão juntos em uma única direção. Se houver aportes de capital na bolsa, significa que se consegue um efeito manada muito significativo. O problema é que talvez não haja ingresso líquido, justamente pela percepção de falta de boas opções.
A Souza Barros continuou com AMBV4, CCRO3, LREN3, TOTS3 e fez uma troca conservadora, RADL3 saiu e entrou RENT3. A Ativa optou por ficar inativa: LREN3, AUTM3, ITUB4 e VALE5 foram mantidas, mas foi excluído o setor elétrico (vinha de COCE3 e EQTL3) para dar lugar a CSAN3.
A Planner deve ter trocado sua equipe, pois ao invés de apostas ruins fora da manada e de contra-tendência, como nos meses anteriores, decidiu-se pelo feijão com arroz: ODPV3, RENT3, ALPA4, MULT3 e TAEE11. Agora parece razoável. Lembremos que TAEE11 foi ideia da XP, que a manteve em carteira assim como a PDGR3, mas continua inovando com AEDU3, ARTR3 e CGRA4.
A única carteira petroteimosa é a da SLW, mas mesmo assim diminuiu sua exposição às commodities com a exclusão de Vale e Gerdau. Tornou-se uma carteira de mercado interno: PETR4, RAPT4, NATU3, BVMF3 e AMBV3.
A Octo continua com medo de desgrudar do Ibovespa: VALE5, SUZB5, ITUB4 e BRML3, como no mês anterior, mas corrigiu sua exposição exagerada ao minério, saindo GGBR4 e entrando HBOR3.
A paixão pela Kroton ainda arde na carteira da Santander (PCAR4, KROT3, KLBN4, EVEN3 e VALE5) e da Geração Futuro (VALE5, KROT3, BVMF3, UGPA3 e LREN3). E a teimoTIMosia é da personalidade da Bradesco (CSAN3, TIMP3, RADL3, DIRR3 e AEDU3) e da Citi (CCRO3, EVEN3 BBDC4, TIMP3 e BRML3). Ainda assim, são todas carteiras equilibradas.
Afora as carteiras publicadas no Valor, vale mencionar outras, como a ultra fundamentalista Socopa (GRND3, OSXB3, VALE4, CSAN3 e SUZB5), pela coragem da parceria com o óleo de Eikex, a despeito do downhill. E a ex-campeã Geral, ainda patinando no ano novo (MDIA3, EZTC3, ALSC3, KLBN3, LREN3, MIL3, NATU3, SMTO3, LEVE3, VLID3), mas com uma carteira cristalina.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O fim das aposentadorias

Escrever a respeito do fim das aposentadorias parece uma decisão proveniente de um pensador muito liberal, que aposta no sucesso das economias de mercado e dos mecanismos autorregulatórios. Mas a discussão é complexa e extravasa os embates típicos das correntes econômicas antagônicas.
Às vezes nos esquecemos o quão recente é a concepção de aposentadoria. Foi inventada, nos países ocidentais, depois dos anos 30 e consolidada somente na segunda metade do século XX. Até então, os familiares e as instituições de caridade cuidavam das pessoas idosas, que só paravam de trabalhar quando estavam incapacitadas.
Quando criaram a aposentadoria, era um excelente negócio para os governos: deram um presente para a população — a promessa de que a partir de algum momento todos estariam protegidos da penúria no final de vida quando o corpo e a mente impossibilitavam de trabalhar — e em troca arrecadaram recursos dos trabalhadores e passaram a gastar a vontade os novos impostos travestidos de contribuições.
Sempre se soube que o sistema previdenciário não se sustentaria no longo prazo. Assim como hoje se sabe que o meio ambiente não se sustenta no longo prazo. Em ambos os casos, o prazo era ou é longo demais para que se consiga juntar a força necessária para realizar mudanças. Ninguém quer abdicar de seu conforto presente em prol de um futuro desconhecido que parece muito abstrato e longe. E ninguém gosta de ser lembrado que existe a possibilidade de você esperar horas em uma fila de bilheteria de um show concorrido e o ingresso acabar bem na próximo da sua vez de comprar.
Conhecíamos uma variável, o padrão de queda persistente nos índices de fecundidade, que sempre ameaçou a sustentabilidade das aposentadorias e por si só já deveria ter sido suficiente para promover debates mais maduros a respeito do tema. Mas as discussões sempre forma emboladas e de difícil digestão: nunca se pode discutir apenas a aposentadoria, porque a conversa sempre extravasou para se pensar qual o papel do estado nas economias, se mínimo ou máximo. As respostas sempre foram polarizadas demais: ou não deveria haver garantia estatal para a aposentadoria ou o estado deveria assumir esse encargo em prol dos cidadãos. Mesmo quando se tentou achar meio termos — um arranjo em que se mescla um piso público e um complemento privado — o caminho intermediário não agradou nem a esquerda nem a direita. Nas disputas de pensamento econômico, nunca houve uma história de concessões.
Fatos novos, aos poucos, surgiram. Desde os anos 80, os estados se endividaram e perceberam que sua capacidade de se expandir e arrecadar mais impostos sem prejudicar demasiadamente a economia havia se deteriorado. A garantia das promessas dos anos dourados ficou muito cara e os governos passaram a enfrentar os dilemas que as restrições fiscais impunham no campo previdenciário. Era evidente, na maior parte dos casos, que as entradas e saídas dos caixas dos sistemas não se equilibravam.
As pessoas começaram a viver mais. Em primeiro, nos países ricos; algumas décadas depois, por todo mundo. Em paralelo, ninguém mais entendia a aposentadoria como uma segurança no final da vida para a eventual incapacidade de trabalhar. Deixou de ser vista como uma garantia de cinco a dez anos de vida digna mesmo com uma inserção de trabalho precária, quando muito, ou uma segurança perante a ameaça de invalidez. Agora as pessoas tinham a expectativa de viver mais vinte ou trinta anos, com qualidade de vida e se considerando livres do fardo do trabalho, quando poderiam gozar a vida tranquilamente. As promessas mudaram de significado. A aposentadoria deixou de ser uma ação de assistência social para se tornar o que se convencionou chamar de direito da classe trabalhadora.
A situação de desequilíbrio se agravou após a crise de 2008 na Europa. Os países que serviam de modelo ao resto do mundo passam a ter sistemas insustentáveis. A dívida pública cresceu a taxas assombrosas e houve uma pressão de gasto maior sobre os recursos estatais. Além disso, entrou-se em uma era de baixos rendimentos das aplicações financeiras, sejam elas provenientes de títulos públicos ou privados. O fermento do bolo, que ajudava no equilíbrio atuarial das contribuições e retiradas, estragou.
Por último, mas não menos importante, os valores em relação ao trabalho mudaram. Aposentar-se passou a ser, em muitos casos, para muitas pessoas, um problema e não uma solução. Nos acostumamos a viver em torno do trabalho: é ele quem dita como usamos o nosso tempo e conforma nossa sociabilidade. Quando não se trabalha, muitos são aqueles que não sabem o que fazer e invariavelmente são acometidos pela solidão.
Os aposentados de hoje demandam trabalhos. Claro que não os penosos e árduos, se puderem escolher. Optam por trabalhos criativos, na maioria das vezes voluntários, nas mais diversas áreas que gostariam de ter desenvolvido mas até então não desenvolveram, como nas artes, na educação, nas aventuras e no conhecimento. O fato inegável é que eles estão muito próximos do universo do trabalho. E não há outro jeito de se usar bem o tempo e de ter convívio social sadio na contemporaneidade.
Com regimes de trabalho mais flexíveis, a tendência é que a grande maioria das pessoas opte por conciliar a renda de alguma forma poupada durante a vida, de modo privado ou estatal, com rendimentos provenientes de trabalhos não extenuantes, que exijam menos horas, e que sejam compatíveis com a idade em que a pessoa se encontra.
Este é, ao meu ver, o fim da aposentadoria como nós a conhecemos. A geração mais nova nem entenderá esse conceito como um prêmio, como muitos entenderam até hoje. Aposentar-se passará a ser cada vez mais parecido com o conceito de ser "encostado" ou "se encostar": um recurso assistencial para aqueles que não tem mais condições de viver no mercado de trabalho ou empreender seus próprios negócios. Portanto, um regime híbrido, em que um piso salarial dado pelo estado garante a subsistência e a própria pessoa deve ser responsável por sua complementação, parece inevitável. Nesse sentido, a aposentadoria, enquanto conceito, voltaria às suas origens, como uma iniciativa da assistência social, e não como um programa elaborado para possibilitar as pessoas não mais trabalharem a partir de uma idade arbitrariamente fixada.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Melhor título do Tesouro Direto para janeiro de 2013

A ata da reunião do Copom só saiu hoje mas confirma uma possível mudança de rumos na política monetária. As autoridades reafirmaram o compromisso do Banco Central com as metas da inflação e prometem gerenciar as taxas de juros para controlar os preços. O contrato de janeiro de 2014 está em 7,22, enquanto janeiro de 2017 é de 8,71% e janeiro de 2021 é de 9,42%. Eu ainda duvido que Dilma sancione o aumento da taxa de juros. É ver para crer.
Nunca levamos muito a sério as metas de inflação no Brasil. As metas fiscais eram perseguidas com mais compromisso, mas agora nem essas foram mantidas. Por que deveríamos pensar que o governo tem um novo compromisso com a inflação? O nível de aumento de preços ideal não depende das metas fixadas, mas sim da tolerância da população emergente quanto as variações de suas cestas de consumo. Enquanto houver ganho real de poder de compra, o governo não se preocupará.

Em minha humilde opinião, deveríamos olhar nossos (cada vez mais) irmãos europeus para ver como pode ser rápida a deterioração do quadro fiscal. Falta aparecer algum profeta influente, um Roubini tupiniquim, alertando para esse risco. Se isso ocorrer, os prêmios demandados pelos compradores dos títulos de longo prazo podem aumentar rapidamente, piorando a rentabilidade daqueles que tem esses títulos em carteira.
Como as incertezas estão, aos poucos, se firmando no horizonte, o melhor é se refugiar nas LFTs ou nos títulos indexados ou prefixados de curto prazo (até 2017).

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Carteiras recomendadas para janeiro de 2013


Aproveito o texto do último mês, ajustando-o.
A campeã Souza Barros, nossa preferida em 2012, continua em sua toada de mercado interno, com AMBV4, CCRO3, LREN3, TOTS3 e RADL3. No mês passado, minha única objeção era Tractebel, pelos mesmos motivos que rejeito a Coelce — não há garantia que o apetite interventor do governo tenha se encerrado. Não à toa, saiu da carteira. Entraram ações caras no lugar, mas prudentes.
A cearense COCE5 saiu da carteira da Ativa, sendo substituída por EQTL3, junto das mantidas LREN3, AUTM3, ITUB4 e VALE5, para não escapar demais do Ibovespa. A carteira ficou mais diferente da SLW (PETR4, RAPT4, VALE5 mantidas, GGBR4 no lugar de BRFS3 e BVMF3 no lugar de COCE5), que ficará ainda mais colada ao Ibovespa.
A XP segue sui generis, com TAEE3, PCAR4, BRSR6, CSAN3 e PDGR3. Continua arriscada como  nos meses anteriores.
Continua curiosa a carteira da Planner, baseada em contratendência. Excluiu Totus e OHL, acrescentando Gerdau e Hering, além de PETR4, EZTC3 e FLRY3. Do lado oposto, a Santander continua com apostas gráficas de tendência, mas reforçada com novas blue chips, com GGBR4, KROT11, IMCH3, BRFS3 e VALE5. A campeã de ensino universitário também continua na carteira da Geração Futuro, ao lado de VALE5,  LREN3, BVMF3 e RAPT4, excluindo PCAR4 e UGPA3. Uma carteira feijão com arroz, para não ficar pra trás das concorrentes.
Por último, vale citar a carteiras que continua equilibrada da Citi (CCRO3, TIMP3, UGPA3, TOTS3, EVEN3). Chama a atenção a coragem da Citi de encarar TIMP3. A Octo começou do zero o ano novo: largou todas as sugestões de dezembro para grudar no Ibovespa em janeiro: VALE5, GGBR4, SUZB5, ITUB4 e BRML3
Aos poucos, a Petrobras foi sumindo das carteiras e só permanece em duas. A probabilidade do governo ser benevolente com os lucros da petrolífera continua parecendo cada vez mais remota.
Sumiram small e medium caps que se aventuraram em dezembro, e prevaleceram blue chips.
A carteira de dez sugestões da Omar Camargo não foge muito das corretoras já analisadas (BRML3, ITUB4, CSAN3, RADL3, BRFS3, VALE3, MPLU3, OIBR4, GGBR4 e ALLL3). É interessante a escolha pela Oi, dentre as teles, e pelas ordinárias da Vale — segundo os gestores mais procuradas pelo capital externo.
A Um Investimentos se concentra no mercado interno com GRND3, CCRO3, LREN3, CIEL3 e AMBV4. É a única corretora que continua bebendo cerveja. Os chinelos também aparecem na Rico, ao lado de VALE5, VIVT4, STBP11, TBLE3, BBAS3, VLID3 e TAEE11. É a única carteira a manter a Tractebel e o Banco do Brasil (nem o próprio se sugeriu, preferindo o Bradesco).
Não sou fã dos bancos atualmente, por isso não gostei da carteira da HSBC, com dois deles, ITUB4 e BBDC4, acompanhados de PCAR4, SLCE3, GGBR4, ODPV3, BRFS3 e VALE3. Atenção à Vale ordinária pintando de novo.
Por fim, outra carteira com sugestões interessantes pontuais é da Gradual, ao incluir small caps como BEMA3 e SLED4.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Estratégias de day-trade

Uma das atividades mais fascinantes no mercado acionário é a do day-trade. Trata-se de uma atividade puramente especulativa, que difere marcadamente dos investimentos de longo prazo. O day-trade é um investimento por um dia.
As pessoas se acham mais espertas do que a média de Zecas e Joãos. Elas pensam que é fácil fazer day-trade e que vão ganhar dinheiro na moleza. Aí surge a primeira dificuldade: como se sobressair no mercado de espertalhões. O caminho óbvio é deter informações que ninguém conhece ou poder antecipá-las. Mas dificilmente poderíamos classificar tal atuação como de day-trade, porque as operações são pontuais e não recorrentes.
Todo day-trader opera tendo em vista três movimentos:
i) choque de preço positivo ou negativo (notícia boa ou ruim);
ii) tendência (de alta ou de baixa);
iii) correção (de alta ou de baixa).
É difícil lucrar com as notícias, porque todo mundo tem acesso à informação. Quando a notícia sai ou quando o mercado abre, as dez da manhã, os preços saltam e o ajuste é praticamente automático.
Também não é fácil lucrar com as tendências, principalmente porque boa parte dos movimentos de preço ocorrem quando o mercado está fechado. Na abertura, os preços saltam e a oportunidade de lucro imediato desaparece. De qualquer forma, a operação de tendência no day-trade reduz o risco do investidor, pois ele nunca fica desassistido.
A correção é o inverso da tendência. Às vezes o mercado exagera, pra cima ou pra baixo, e o trader pode aproveitar o momento para julgar os preços corretos do ativo que está operando.
Para facilitar, você pode operar com três horizontes temporais:
i) hoje;
ii) ontem;
iii) anteontem (antes de ontem).

Você precisa saber o que está fazendo. A tendência de ontem pode continuar hoje ou pode ser corrigida, assim como a do mês passado. Ou o mercado de hoje pode estar agitado e ter pouca memória. Horizontes temporais maiores também contam para as decisões, principalmente quando não há nada de significativo ocorrendo no mercado.
Por último, é preciso analisar a posição do ativo entre os demais. A sua operação pode ser:
i) isolada;
ii) de acompanhamento de pares;
iii) de acompanhamento do índice.
Ao todo temos 27 ou 54 combinações possíveis, dependendo de como você tratar a alta e a baixa. Exemplos: tendência/hoje/isolada ou tendência alta/hoje/isolada, correção/ontem/pares, notícia/hoje/pares, tendência/hoje/índice.
Com o tempo você pode classificar suas operações e descobrir quais são as mais lucrativas.