terça-feira, 9 de setembro de 2014

Carteira recomendada de ações para setembro de 2014

Depois de um agosto que rendeu 9,78%, principalmente por causa das blue chips que destravaram, as carteiras recomendadas saíram do feijão com arroz e agora se nutrem de um longo buffet variado. Até mesmo a Eletrobras voltou (SLW e BB), para acompanhar a Petrobras (Ativa, BB, Votorantim, Souza Barros e Santander). O problema, nesse ano, é bater o Ibovespa: só três das doze carteiras acompanhadas pelo Valor estão melhor que o índice.
Algumas ações fortes de mercado interno também aparecem, ainda que timidamente (Ambev, Natura, Hypermarcas, Hering, Pão de Açúcar e Raia Drograsil). Pelo menos uma dessas ações costuma entrar nos portfólios, com objetivo de reduzir a variância da carteira.
Será muito difícil alguém disputar o título com a Geração Futuro. A carteira composta de ESTC3, BBSE3, KLBN11, ITUB4 e ALSC3 é diversificada o bastante e resistente a crises episódicas e setoriais.
É interessante notar a estratégia da Santander. Com a carteira montada com PETR3, BBAS3, ITUB4, SULA11 e CSAN3, procurou papéis com ótimo desempenho em agosto. É uma aposta de que não haverá correção, mas continuidade na elevação dos preços. Para sugerir tais papéis, excluiu as faculdades, cujo desempenho no mês passado ficou bem abaixo do Ibovespa.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Análise técnica avançada não funciona

Há um mercado grande de cursos, apostilas, livros e instrutores que disputam alunos de análise técnica. O assunto, quanto mais aparentemente sofisticado, mais desperta o interesse dos incautos e promete maiores lucros. Mas o resultado, ao menos em tese, é irônico.
A análise técnica de fato funciona, muitas vezes. Mas não por você ter descoberto alguma fórmula mágica ou um desenho oculto em meio a linhas, topos, barras e fundos. Ela dá certo porque o mercado, no curto prazo, está sempre se auto-realizando. Ele se movimenta não de acordo com os fundamentos reais, mas com as expectativas de seus agentes, que na maior parte das vezes estão fundadas em emoções e julgamentos coletivos. Se todo mundo olha o mesmo gráfico e vê o ativo crescer, e todo mundo concorda que essa é a tendência do ativo, é natural que ele continue crescendo.
Mas a análise da análise técnica não é tão trivial assim. Movimentos auto-realizáveis dependem da ação conjunta de vários agentes. Nos mercados, salvo manipulações, essa ação não é coordenada conscientemente pelos agentes que se combinam para fazer o preço do ativo crescer. A coordenação é inconsciente e involuntária. Todos agem como se o ativo fosse crescer e de fato ele cresce. Claro que na prática há muitos ruídos nesse processo e na maioria das vezes não há mamão com açúcar na vida de um trader.
Se todos têm de agir juntos e de modo semelhante, mesmo sem se comunicar, a escolha ótima recai em comportamentos repetitivos, estereotipados e automáticos. Nada de reinventar a roda. É como um jogador na posição de volante, em um time de futebol, burocrático, que joga plantado e dá chutões pra frente. Ele sabe que seu papel durante o jogo pode ser justamente aquele de não criação. Também é como uma fala em uma festa de formatura: é boa a que escolha as palavras esperadas. Ou um porteiro, em que sua função é não fazer nada de diferente, apenas olhar e reprovar visitas indesejadas. Enfim, há milhares de ofícios em que o que se espera é o sujeito reproduzir uma técnica, uma tarefa ou um produto sem alterá-lo. Isso é muito mais comum do que o contrário, quando você pode soltar sua criatividade e sua inspiração para inventar algo diferente.
Não há o que revelar na análise técnica. Ela funciona justamente quando não há nada oculto e todo mundo, até mesmo uma criança, pode dizer o que vai acontecer com o ativo no dia de amanhã. Ou ele está subindo ou está descendo. É simples. Quanto mais gente achar a mesma coisa, mais a profecia dará certo. É o oposto da previsão do tempo, quando a opinião das pessoas não tem nenhum impacto nas movimentações atmosféricas.
Quem insiste em sofisticar a análise técnica, inventando figuras, descobrindo supostos padrões, testando fórmulas, mesmo sabendo que as regularidades podem ser infundadas, apenas foge do resultado ótimo. Se você tem de fazer a análise que todo mundo faz, não adianta ficar meses comparando diferentes médias móveis ou números de Fibonacci, porque o grupo de pessoas que faz isso sempre será muito pequeno e não terá força para auto-realizar os mercados.
As lições que se tira do mundo da análise técnica produz resultados estranhos, em desalinho com o mercado de ensino de tal corpo de conhecimento. Três lições são mais importantes: 1- quanto mais indicadores forem usados no mercado, menor é sucesso da análise técnica. 2- o mesmo vale para o número de figuras (tudo além de topos e fundos, como ombros, pirâmides, bonecos, dentaduras, etc.). Com tantos indicadores e figuras, é improvável que todos achem a mesma coisa. Enquanto um vê um tigre no desenho, outra pessoa vê, no mesmo desenho, uma borboleta.
A terceira lição é a mais boba de todas. Há décadas, era relativamente fácil de se dizer se o ativo estava subindo ou descendo. Era só ter olhos. Hoje isso não é mais trivial. Com as facilidades da informática, você precisa escolher o horizonte de seu gráfico, se cobrirá horas, dias, semanas ou meses. Daí tudo se complica, porque o ativo pode estar subindo durante o dia, mas estar descendo na semana, subindo no mês e descendo no ano. Ou seja, as unidades diferentes de tempo transformam tudo em uma salada. Até mesmo algo que era relativamente fácil, dizer se um número está aumentando ou reduzindo, passa a ser quase impossível de se dizer com certeza, salvo nos casos de números muito bem comportados, com poucos componentes aleatórios, o que é cada vez mais raro nos mercados. Portanto, quanto mais complexa temporalmente for sua análise, pior ela será. Para dar certo, mais uma vez, você precisa ser tosco, buscar o gráfico que todo mundo usa e fechar os olhos para o resto.
Em suma, quanto mais diversificada as ferramentas de análise técnica, pior é o resultado. Não o seu resultado, isolado, mas o de todo mundo. Os números andam em passeios aleatórios, em que quase ninguém consegue ganhar dinheiro com análise técnica.
Estudar análise técnica é como construir uma escada para subir um degrau e, depois, quando você está em cima, jogar a escada fora. A análise técnica ensina, na marra, o aluno a saber diferenciar sinal de ruído. O normal é se iludir em algum grau e perder tempo em ferramentas não só desnecessárias como contraproducentes. O lucro, de qualquer forma, só virá com o tempo, fruto de um conhecimento tácito que não se encontra em palavras. De qualquer forma, é preciso estudar pra saber o que se está fazendo com exatidão, revelando os porquês. Buscar fórmulas que se conformem aos resultados passados é um erro típico. Garimpar padrões em meio a ruídos aleatórios é outro. De todo modo, para superar tais tentativas, é preciso disciplina, estudo e dedicação. Mesmo o mais experiente operador, por mais que conheça a teoria e os fundamentos, cedo ou tarde cederá à tentação de achar alguma fórmula mágica.
A busca por padrões é inerente ao comportamento humano. Mas o investidor inteligente sabe reconhecer onde eles cabem e onde não cabem. Não insiste na busca onde não há padrões e não se envergonha de restringir sua análise ao senso comum, quando existe. Ser tosco pode ser uma opção inteligente.

Análise técnica em mercados cambiais

Desde os anos 90 a literatura acadêmica sobre o funcionamento dos mercados cambiais não para de crescer. Por um lado, há muitos dados para serem investigados. Por outro, há um interesse óbvio em aumentar as capacidades preditivas dos modelos.
 Taylor e Allen (1992) pesquisaram o comportamento dos dealers cambiais de Londres, em 1988, e revelaram que pelo menos 90% deles usavam em algum grau a análise técnica em seus estudos, principalmente quando se trata do curto prazo. Para o longo prazo, a análise fundamentalista ganha espaço. Taylor continuou suas pesquisas nessa linha e anos depois criou modelos capazes de captar as movimentações de câmbio em obediência aos fundamentos no longo prazo, mas o respeito ao passeio aleatório no curto prazo.
A pesquisa original foi especialmente interessante pois indicou a possibilidade dos mercados se auto-realizarem (self-fulfilling). Essa é única hipótese racional, suficiente e necessária capaz se sustentar a validade da análise técnica.






TAYLOR, Mark P.; ALLEN, Helen. The use of technical analysis in the foreign exchange market. Journal of international Money and Finance, v. 11, n. 3, p. 304-314, 1992.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Carteira recomendada do Tesouro Direto para agosto de 2014

Com a Selic estacionada nos 11%, fica claro para os analistas que esse número é o teto do Palácio do Alvorada. Não podemos esquecer que a meta de inflação foi descumprida várias vezes desde que foi implantada. Com a inflação passando, mesmo que à risca, o teste de sua meta, é muito provável que a presidente esteja satisfeita com tal elevação de nível de preços. O controle, sejamos francos, é para não ultrapassar 6,5% — esqueça o centro de 4,5%. A esquerda econômica acredita, com fé, que uma inflação moderada faz bem.
Isso significa que talvez seja hora de largar as conservadoras LFTs e, paradoxalmente, encarar um pouco mais de risco, mesmo sob a política econômica desviada. Esquecer os eventuais prejuízos dos títulos prefixados que você teve de aceitar e entender em 2013 e se expor às LTNs e NTN-Fs, que pagam 12% ao ano (com vencimento de 2018 em diante).
Com a inflação doméstica em uma linha mais previsível, pode ser interessante reduzir o risco de sua carteira com NTN-Cs, indexadas ao IGP-M, para se assegurar diante de que alguma aventura cambial no primeiro ano da nova gestão do ministério da economia.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Carteira recomendada para agosto de 2014

A média do retorno das carteiras (aquelas compiladas pelo Valor Econômico) tem perdido do Ibovespa esse ano. Tal resultado é um pouco desalentador e favorece os preguiçosos espertos que desistem de tentar bater o mercado e aceitam o índice. Não à toa muitos recomendadores se arrependeram e fizeram as pazes com a Petrobras. Consta até mesmo nas conservadoras Ativa e Souza Barros.
Algumas observações são importantes. Depois de levar porrada em julho, a BB Investimentos resolveu mudar toda a carteira e agora busca o Ibovespa descaradamente, com Vale, Petro, Itaú, Marfrig e, a surpresa, Gol.
A XP não voltou mais às aloprações de 2013 e mantém a pegada leve com Cielo, Itaú, Randon, Estácio e BB Seguridade. Se for mal, pelo menos está na maré.
A Geração Futuro, que é a campeã do ano até agora, com larga vantagem, manteve sua carteira, distribuída em Klabin, Raia, Cetip, BB Seg., e Estácio. Praticamente uma carteira de mercado interno, mesmo com a economia em declínio, mas de característica defensiva, podendo responder inversamente às variações píbísticas. Com a economia morna, é estranho ainda ver ABEV3 (SLW), PCAR4 (Citi) e HYPE3 (Bradesco), papéis tão dependentes das expectativas brazucas. A maioria das corretoras expurgou tais ações para agosto.
As telefônicas sumiram da praça. Só entrou a TIMP3 na Planner, mesmo assim esperando por boas notícias temporárias. Também foram varridas as empresas ligadas ao mercado imobiliário e ao setor elétrico. O impressionante é a força das ações ligadas ao mercado financeiro. Da carteira do Valor de 10 ações, 5 são do setor: relembrando, Itáu, Bradesco, BB Seg., Valid e Cielo. Isso mostra medo do mercado externo, temor da chamada política industrial brasileira e atenção aos desmarcos regulatórios.
Perder do Ibovespa e ainda ficar negativo (como metade das carteiras) é como fazer um gol contra. Pra evitar o vexame, o melhor é seguir esta estranha correnteza desse período pré-eleitoral.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Carteira recomendada de dividendos vale a pena?

Geralmente o investidor que prefere papéis que pagam bons dividendos tende a ser alguém conservador. Em oposto, especuladores arrojados, no outro lado do espectro, preferem ações com beta alto, liquidez e volatilidade, para que possam fazer suas operações curtas. Dessa forma, passa-se a impressão de que o aplicador de dividendos é do tipo que "casa" com as empresas. Mas não precisa ser assim.
Não é porque você escolhe companhias que distribuem seus lucros aos acionistas em proporção maior do que os 25% (percentual que a lei para as sociedades de capital aberto  obriga) que você vai fechar os olhos para flutuações no valor de uma empresa. Para citar um exemplo, o governo Dilma fez uma forte intervenção, de modo surpreendente, no regulamento do setor elétrico brasileiro. Ações desse setor perfaziam a maioria daquelas recomendadas pelas corretoras nas carteiras de dividendos. Houve um queda abrupta no preço das ações de quase todas as empresas, mas umas caíram mais que outras e se produziu uma mudança nas relações de preço e lucro e preço e valor patrimonial, a tal ponto que se tornou inquestionável a necessidade de uma recomposição das carteiras. O investidor que "casou" com os ativos errados, como se diz no mercado, por certo teve prejuízos contínuos.
Portanto, é muito recomendável que mesmo os investidores conservadores tenham de recombinar suas escolhas ao menos uma vez por mês. Se não houver mudanças significativas, ele pode continuar com os papeis, economizar os custos de corretagem e poupar seu trabalho de fazer a operação. Mas se nenhuma corretora continua sugerindo aquela ação que você comprou com tanta esperança, é hora de aceitar que nesse barco você não pode remar sozinho.
Assim como qualquer ação, buscar aquelas que pagam maiores dividendos de modo consistente é um trabalho árduo, de pessoas especializadas. Não há como fazê-lo sem um conhecimento específico do setor que se está analisando. Não basta conhecer os balanços contábeis ou os indicadores fundamentais. Como, em geral, as recomendações se concentram em alguns setores específicos — elétrico, telefonia, mineração e setor financeiro — é indispensável um acompanhamento setorial. O caso mais óbvio é do setor elétrico, que já exemplificamos. Alguém que se dedique a estudar as ações boas em dividendos terá de se debruçar sobre a regulamentação brasileira do setor e as notícias de intervenção governamental que frequentemente abalam o mercado.
Com tanto esforço a ser feito, é uma graça divina que haja corretoras divulgando tais carteiras de papéis bons em dividendos, mesmo sabendo que tais composições variam pouco e que os investidores são do tipo que apresentam baixo giro de carteira. Por óbvio, são poucas as corretoras e bancos que fazem tal trabalho. É compreensível.
Uma facilidade específica na análise e interpretação dessas carteiras de dividendos é que elas variam pouco de corretora para corretora. O mercado muitas vezes tem consenso de quais empresas são confiáveis e são boas pagadoras de dividendos. Ademais, a competição entre as corretoras é menor e os problemas de quererem se destacar artificialmente aumentando o risco da carteira escolhida é pequeno. As carteiras de dividendos estão longe dos holofotes, podemos dizer, e isso é um ponto muito positivo para a qualidade do que está sendo sugerido.
De qualquer forma, a pergunta que compõe o título remete a duas questões: 1- se vale a pena eu seguir a carteira de outrem na escolha de companhias que pagam bons dividendos, ao invés de me virar sozinho, estudar e fazer minhas apostas; e 2- se é melhor eu seguir uma carteira de dividendos do que seguir outra carteira qualquer. A primeira questão nós temos, com clareza, que a resposta é sim, vale a pena. Agora vamos explorar a segunda questão.
É uma arrogância querer prever o futuro ou descobrir, ocultamente, padrões gráficos no Ibovespa em seus movimentos de longo prazo. De qualquer forma, quando se analisa um horizonte temporal de anos ou décadas, é perceptível a persistência de fases consistentes, os bull markets (as boas fases) e os bear markets (as más fases). Claro que é difícil saber, no presente, quando um começa e o outro termina. Mas diferente dos mercados diários, em que não se tem certeza do que realmente está ocorrendo, se é uma tendência de fato ou um ruído aleatório, os movimentos de longo prazo são consensuais. Atualmente a bolsa brasileira vive um bear market, enquanto a bolsa americana passa por um momento de bull market. Você pode explorar esse conhecimento para escolher quando optar por ações que são boas em pagar dividendos.
Quando o mercado está aquecido e otimista, as ações sobem bastante. Nesse caso, os dividendos pagos não fazem tanta diferença, porque a subida dos preços da maioria dos papeis, mesmo dos maus pagadores de dividendos ou de empresas endividadas e em prejuízo sistemático, é muito interessante. Mas quando o mercado está fraco e relativamente pessimista, como é o caso do mercado brasileiro hoje, as perspectivas de ganho com o aumento regular dos preços das ações são mais escassas. Nesse caso, a aposta em dividendos é muito boa, porque garante um fluxo permanente de ganhos que você não encontra no então morno e apático mercado acionário.
Podemos nos perguntar, então, se é assim tão simples, por que os investidores não adotam sempre essa estratégia? Na maior parte dos casos é por conta da ambição de querer acertar a entrada dos bull markets, quando os ganhos iniciais podem compensar a espera paciente. Investidores ambiciosos sofrem muito ao sentirem que perderam uma boa oportunidade que outros aproveitaram. Assim, podem preferir seguir a manada, com medo de perder o trem da alegria dos grandes saltos de preços, mesmo sabendo que no longo prazo estariam melhor com outras estratégias.
Note que sua escolha por ações pagadoras de dividendos geralmente pode estar associada a um pessimismo sobre o comportamento futuro do mercado acionário. Se você é um otimista inveterado, optar pelos dividendos pode ser bastante contraditório, assim como se você é um amante do risco. O segredo para uma boa estratégia, que seja compatível com suas expectativas de ganho e de risco, e sua tolerância de se sentir fora do jogo, é se conhecer.
Em suma, opte por carteiras de dividendos, ao invés de outras carteiras, se você tem aversão ao risco e desconfiança em relação ao mercado acionário. Por último, é interessante salientar que tais características, desse perfil de investidor, geralmente tratam de um sujeito que investe pouco em ações e prefere por a maior parte de seu dinheiro em imóveis ou em títulos públicos. No Brasil, o mercado acionário é tido como um investimento de risco. Mas não é necessariamente assim. O menos arriscado é diversificar os investimentos, de tal forma que mesmo as pessoas conservadoras e avessas ao risco, todas elas, deveriam ter parte do seu capital investido em ações.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Carteira recomendada vale a pena?

Na minha opinião, não resta dúvida de que vale muito a pena seguir as carteiras recomendadas, principalmente se você for fazer uma meta-análise, como a que nós fazemos e que o Jornal Valor Econômico faz.
Obviamente, como tudo na vida, não existem apenas pontos positivos em seguir as carteiras. Posso começar o texto elencando as razões negativas, que volta e meia pululam nos fóruns e blogues da internet. 1- Você nunca deve confiar o cuidado do seu dinheiro para um desconhecido, afinal, ninguém está interessado em ganhar dinheiro por você. As pessoas objetivam, no fundo, ganhar dinheiro de você. 2- De um ou outro modo, as corretoras ou agentes que te farão as recomendações irão ganhar parte de seus rendimentos — em geral por meio de taxas de corretagem provindas do giro de carteira. 3- As corretoras podem sugerir a compra e venda de ações para as quais conseguem se antecipar aos movimentos de mercado que elas próprias fomentaram. Por exemplo, eu, corretor, compro a ação antes de recomendá-la e vendo a ação antes de extraí-la de minha carteira. 4- As carteiras recomendadas podem estimular o overtrading, ou seja, a negociação excessiva de papéis, contra o velho conselho de comprar o papel de uma boa empresa e realizá-lo após décadas de paciente espera.
Cada uma dessas críticas possui respostas à altura. A maioria das pessoas não tem tempo nem conhecimento para cuidar de seu próprio dinheiro e para conseguir montar uma boa carteira de ações sozinha. Quando muito, fazem um ou dois cursos de educação financeira ou compram meia dúzia de livros. É claro que tal esforço é insuficiente para acompanhar os balanços das empresas, as perspectivas do setor, as notícias que possuem impacto nos resultados futuros e as condições macroeconômicas internas e externas. Mesmo que você se dedique integralmente à tarefa, é preciso reconhecer que uma análise de boa qualidade demanda o esforço de uma equipe inteira, como aquelas presentes nas melhores corretoras e bancos.
Quase a totalidade dos investidores individuais não vão se dedicar integralmente, tampouco formarão equipes, de tal modo que é necessário ter humildade de reconhecer que sua análise pode não ser tão boa quanto você acha. Mesmo que você estude anos a fio, ainda assim terá de amargar períodos em que seus resultados serão piores, por conta da incerteza de mercado. E muitos daqueles que dizem terem superado os resultados das carteiras recomendadas, se aproveitam de um resultado em grande parte aleatório, que dificilmente terá consistência de longo prazo.
Quando se segue recomendações, você não está confiando o seu dinheiro a um desconhecido. Você mantém o seu livre arbítrio de comprar ou vender ações. Ninguém está fazendo por você. Além disso, não há uma única carteira sendo recomendada no mercado. Existem diversas. Para minimizar o seu risco de estar entrando em uma barca furada de recomendadores mal intencionados, você pode diversificar as carteiras que irá seguir ao longo do tempo. O melhor método, insisto, é fazer uma meta-análise, ou seja, ao invés de analisar diretamente os papéis, você analisa as corretoras e poupa muitas horas de trabalho. É como se você analisasse uma seleção já feita por alguém em que você só precisa alçar os melhores dos melhores. Separar o joio do trigo é um serviço que custa caro para olheiros de futebol e profissionais de recursos humanos, para tomar alguns exemplos de outras áreas. As corretoras fazem isso para nós, investidores institucionais, de graça.
A meta-análise das carteiras também permite ser cauteloso com os possíveis conflitos de interesse, principalmente das grandes corretoras, que podem querer mexer no valor das ações pela simples sugestão de investimento. De certa forma, sabemos quais as corretoras que podem ter tal poder, como aquelas de grandes bancos internacionais e as corretoras com grande capilaridade no Brasil.
As carteiras mensais, ao contrário das semanais, não estimulam o overtrading, porque o prazo é relativamente dilatado e dificilmente todos os papéis são trocados. Em geral, as carteiras que acompanhamos sugerem cinco ações, e trocam de um a dois papéis por mês. Claro que há meses em que todos os papéis são trocados, mas também há períodos, muitos deles, em que a carteira não é alterada, o que demonstra que a busca por maior rentabilidade e melhor reputação pode ser mais importante do que a tentativa de aumentar os ganhos de corretagem com o maior giro de papéis.
Em outros países, o principal argumento contrário a seguir carteiras recomendadas é o de que dificilmente elas conseguem "bater o mercado" com consistência, ou seja, não é frequente terem resultados acima dos índices, como o Dow Jones, o Nikkei 225, o FTSE 100. Em geral replicam os índices ou tem performance muito parecidas, mas com um risco mais alto. Assim sendo, o mais aconselhável nesses casos é buscar opções de investimento com baixos custos de transação, como fundos de investimento, ETFs, que montam uma carteira de papeis equivalente aos índices, por taxas de corretagem muito baixas. Nada disso, no entanto, é semelhante ao caso brasileiro. Além das carteiras recomendadas serem sistematicamente melhores do que o Ibovespa, as taxas de administração dos fundos, mesmo dos ETFs, são muito altas e comprometem a rentabilidade no longo prazo.
Uma taxa de administração de 2% ao ano, para um capital de R$ 100.000,00 investidos, mesmo não aparentando ser de grande monta, corresponde a um custo de manutenção da carteira de R$ 2.000,00 ao ano. Se pegarmos como exemplo uma corretora cara, que cobra R$ 20,00 por operação, os custos de seguir as carteiras recomendadas ainda assim serão bem mais baixos do que as taxas cobradas pelos fundos. Se houver duas alterações mensais, temos um custo de R$ 80,00 por mês e aproximadamente R$ 1.000,00 ao ano, ou seja, metade do valor cobrado por um fundo. Ademais, trabalhando em sua própria carteira, e não por de um fundo, você muito provavelmente irá ter isenção de Imposto de Renda, faculdade esta usufruída para venda de ações no montante de até R$ 20.000,00 ao mês. Com um pouco de pesquisa, você pode baixar muito os custos de corretagem, pois o mercado é altamente competitivo no Brasil.
Enfim, os argumentos em prol de se seguir as carteiras recomendadas são abundantes e sólidos. Claro que ainda assim o investidor precisa fazer a lição de casa, mas é uma tarefa muito menos dolorosa do que se quisesse se aventurar sozinho. Ao invés de ficar debruçado sobre as notícias e balanços diariamente, você precisa se dedicar uma vez por mês a estudar as recomendações e proceder com as alterações necessárias, um esforço relativamente baixo para um retorno alto ao longo do tempo.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Carteiras recomendadas semanais valem a pena?

Geralmente as corretoras publicam suas carteiras recomendadas na periodicidade mensal. É arbitrário, é claro. A análise poderia ser quinzenal, bimestral, semestral. A divisão do tempo apenas faz a sugestão.
Já dissemos em outro momento as dificuldades de se acompanhar as ações por pacotes fechados de dias. De qualquer forma, para as pessoas mais envolvidas em trades e não em investimentos, que perfaz um universo grande de pessoas, principalmente jovens ou iniciantes tentando ganhar dinheiro com trading, as carteiras semanais podem ser muito interessantes.
Assim como as mensais, elas mesclam características da análise técnica e da análise fundamentalista, com pitadas de análise macroeconômica. A análise técnica aponta tendências de curto prazo que podem ser exploradas com alguma probabilidade de ganho tendo em vista que possuem um ponto de entrada e um ponto de saída bem delimitados, conscientes da existência de eventos futuros perturbadores que podem estar além do horizonte temporal semanal. Lembramos que se dá o nome de swing trade para esse modelo de negócios que usa negócios rápidos com duração de alguns dias.
A dificuldade dos traders amadores para fazer o swing é determinar o ponto de saída. A pessoa sempre acha que saiu cedo demais e deixou de lucar com o movimento correto ou que saiu tarde demais, amargando grandes perdas decorrentes do que julga ser teimosia ou procrastinação. Não cabe aqui nos prolongarmos a respeito da psicologia na análise técnica, um tema muito extenso que avalia o comportamento das pessoas diante de estímulos na maioria das vezes aleatórios. O importante é destacar que, quando delegamos o ponto de saída a algum terceiro, como a carteira recomendada semanal, isso pode nos salvar muitas preocupações e sentimentos de culpa.
A análise fundamentalista, nessa amplitude temporal, em tese, é bem interessante. Tenta se antecipar a possíveis mudanças nos índices financeiros, basear-se na revelação de novos fatos que impactam nos resultados da empresa ou captar ajustes de preço baseado nos fundamentos. Aqui as informações internas, as inside informations, tem peso de ouro para uma boa análise. De modo mais geral, a análise macroeconômica também pode ser explorada, principalmente no que toca a grandes movimentos inesperados ou inexplorados das principais variáveis, como a taxa de juros, o câmbio e a inflação. O que se busca é algum sinal de que a economia interna ou a economia externa se comportará melhor ou pior do que o esperado, o que impacta de forma desigual nos papeis brasileiros, que possuem, muitas vezes, um perfil interno ou externo bem definido.
Afinal, vale a pena? Entendo que se o objetivo da pessoa é o investimento de longo prazo, talvez seja mais aconselhável não seguir as carteiras, que podem trazer muita confusão no decorrer do tempo, principalmente quando passar por períodos negativos enquanto o Ibovespa segue positivo, algo que irá acontecer várias vezes, em virtude dos movimentos aleatórios naturais das séries econômicas. As carteiras mensais geralmente são melhores que o Ibovespa porque o depuram de ativos que se sabem questionáveis mas que o mercado não consegue ajustar os valores de imediato, porque as relações institucionais políticas trazem ruídos no movimento de preços, com agentes segurando os papeis ou os estimulando por razões que não são necessariamente conectadas com sua valorização de longo prazo.
Mas se o objetivo é fazer trading, não há motivo de não segui-las. No limite, o especulador não deveria nem mesmo ficar travado no prazo semanal, mas como nem todos podem passar o dia operando, é confortável determinar o ponto de uma vez por semana. Às vezes pode ser até mesmo mais lucrativo seguir os preços uma vez por semana do que todos os dias, o que por certo traz ansiedade e tendência ao overtrading, que sabidamente corrói a rentabilidade acumulada dos investidores.
Por último, é importante olhar sob o ponto de vista das corretoras. Não são todas que fazem tais carteiras semanais. Por que não? Por várias razões. É estressante publicar as recomendações, pois, mesmo o mais irresponsável e despreocupado analista acaba por assumir uma responsabilidade grande e terá de se defender perante investidores irados se algum ativo divergir demasiadamente. Se análise é feita por uma equipe, há sempre a laboriosa tarefa de se reunir e apontar uma direção comum, o que pode ser desgastante e despender muito tempo. 
A corretora também pode ser questionada de que não se preocupa, de fato, com seus clientes, mas que em verdade os estimula a fazer operações em um número exagerado e desnecessário, com o intuito de que gerar maiores receitas de corretagem. Isso é especialmente ruim para aquelas que cobram preços acima da média de mercado e que querem atrair clientes pela qualidade dos serviços e pela lucratividade dos investimentos em bolsa no longo prazo. Tal problema não afeta as corretoras que cobram corretagens baixas, porque fica implícito ao investidor que suas vantagens perante os concorrentes é permitir um trading mais lucrativo. Em outras palavras, o perfil do investidor em corretoras baratas é, geralmente, de traders, que por certo não reclamarão de receber sugestões semanais de swings.
Enfim, se você é um investidor de longo prazo, fuja das carteiras semanais. Se você é um especulador, abrace-as com inteligência e suspeição.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Problemas com os rankings de carteiras recomendadas

Dois portais de notícias brasileiros promovem competições e comparações entre as carteiras recomendadas de corretoras e de bancos. Há um número de vinte a trinta instituições no Brasil que publicam suas carteiras recomendadas com periodicidade mensal.
Em princípio, tendemos a notar os aspectos positivos de se promover tais comparações. Chama a atenção do leitor o esforço dos analistas, que tem seu trabalho divulgado. Estimula a investir no mercado acionário, tendo em vista que, ao menos no Brasil, o rendimento médio das carteiras recomendadas tem sido sistematicamente superior ao Ibovespa. Possibilita ao leitor conhecer outras corretoras que estão ativamente captando clientes no mercado. Questiona, naturalmente, a carteira recomendada indicada pela própria corretora ou banco que o cliente tem conta.
Esse último item é especialmente importante, ao nosso ver, porque muitas pessoas têm preguiça em pesquisar com seriedade as carteiras recomendadas e acabam se fiando apenas nas sugestões que tem acesso imediato em seu banco ou corretora.
Diante de tantos pontos positivos, é preciso cuidado para não esquecer dos problemas advindos desse tipo de competição. Vamos elencar os principais:
i) Muitos investidores não possuem a disciplina de atualizar suas carteiras todos os meses. Tipicamente, a pessoa que tem algum dinheiro para investir não sabe qual ação comprar, procura as recomendações, faz uma ou duas operações e não volta a operar por um longo tempo. A atualização das carteiras dos pequenos investidores não é mensal, como deveria ser. Obedece as oportunidades. Quando muito, no momento de comprar novas ações, o pequeno investidor pode dedicar algum tempo para mexer em sua carteira, trocando papéis antigos.
ii) A amplitude de tempo de um mês pode não prestar nem para a análise técnica nem para a análise fundamentalista. Por um lado, a escolha baseada nos fundamentos dificilmente muda de mês para mês a ponto de promover mudanças significativas nas carteiras recomendadas. Por outro, se o objetivo é exercer a escolha de tendências momentâneas e correções de preço, o prazo de um mês pode ser muito longo.
iii) Embora exista transparência natural na revelação dos melhores papeis, o leitor não sabe quais os critérios foram utilizados para as sugestões. É claro que os relatórios específicos dos bancos e corretoras apresentam detalhadamente as justificativas, mas raramente o leitor que consulta os rankings e as relações resumidas das ações tem acesso ou dedica seu tempo a lê-las. Ao final, segue-se as recomendações sem saber ao certo os motivos de fazê-lo e as razões pelas quais as corretoras optaram por tais papéis.
iv) Raramente o procedimento revela  a existência de conflitos de interesse entre as corretoras e os papeis sugeridos. Existe, sempre, o risco de que os analistas estejam recomendando papéis que eles tem algum interesse escuso de que se valorizem ou que ganhem liquidez. Imagine um analista que quer vender suas ações, de alguma empresa pequena; ele pode recomendar com o objetivo de vendê-la em melhores condições e poder realizar seus lucros. Note que em princípio o conflito de interesses fica oculto, pois em tese o analista e o investidor estão no mesmo lado, ambos querem que o papel suba. Mas o raciocínio correto não é bem assim, tendo em vista que o analista antecipa as próprias operações que sugere. Compra antes de sugerir a compra, vende antes de sugerir a venda.
v) A competição pela maior rentabilidade acumulada no ano ou em 12 meses esconde que grande parte do desempenho dos primeiros colocados é fruto de resultados aleatórios. A aleatoriedade é tão forte que raramente os primeiros colocados de um ano conseguem repetir seus resultados em outro ano. A liderança muda com grande frequência, o que mostra que a inteligência dos analistas e a qualidade de suas análises desempenham um papel menor nos resultados.
vi) Com vistas a liderar os rankings, as corretoras podem elaborar carteiras que distorçam a maximização da relação risco e retorno. Isto ocorre porque se trata de uma competição que, por vezes, os primeiros lugares tem um ganho desproporcional em projeção de boa imagem, enquanto os medianos e os lanternas simplesmente são ignorados. Nessa situação, as corretoras, com vistas a ganhar popularidade, optam por maior risco ou escolhem deliberadamente papeis diferentes dos outros competidores para conseguir uma posição distinta, mesmo arriscando caírem da média. O leitor, alheio a esses aspectos, pode estar seguindo uma sugestão cujo objetivo não é, necessariamente, maximizar seu retorno com o menor risco possível.
Embora haja muitos pontos negativos, creio que os pontos positivos os superam. Desejamos vida longa aos rankings e sabedoria e conhecimento aos investidores para entender suas dificuldades.

Carteira recomendada: o que é

Essa é uma dúvida comum de estudantes e pessoas que estão iniciando sua participação no mundo dos investimentos. O uso corriqueiro da palavra carteira remete ao lugar em que colocamos nosso dinheiro e nossos documentos pessoais. Na teoria dos investimentos, carteira corresponde ao conjunto de papéis (opções de aplicação financeira) que um investidor escolhe para ter consigo. Na prática, você pode imaginar a figura de alguém que compra ações de empresas e de fato as guarda em alguma parte de sua carteira.
Note que a carteira remete a ideia de algo que se guarda várias coisas ao mesmo tempo. Portanto, incorpora a noção de investimentos diversificados. Ninguém investe em uma única ação, mas em várias simultaneamente. Para quem quiser um termo alternativo, pode-se pensar em uma cesta de ações.
Durante anos os teóricos pesquisaram qual seria a melhor combinações de ativos (outra palavra para designar diferentes opções de investimento) para maximizar os lucros, os ganhos, do capital investido. Assim como cores ou pessoas, algumas ações não combinam umas com as outras, enquanto outras ficam melhores lado a lado. Isso é refletido, sempre, lembrando de uma hipótese central nas finanças, da aversão ao risco das pessoas e da relação entre risco e retorno. Você só aceita maior risco em suas aplicações se você for premiado com um retorno maior.
Em busca da carteira ideal, os analistas procuram combinar as ações a fim de aumentar o retorno esperado e reduzir o risco. Você pode neutralizar o risco, por exemplo, comprando ações de empresas que possuem betas positivos ao lado de ações com betas negativos. Traduzindo, você compra uma ação que acompanha os movimentos do mercado em geral e outra cujo comportamento é inverso a tais movimentos. É como se um movimento neutralizasse o outro e assim reduzisse o risco.
No Brasil as carteiras recomendadas, em geral, deixam em segundo plano, na maioria das vezes, o risco. O foco está no maior retorno. Isso significa que com frequência podem optar por ações que oscilam bastante seus preços, mas que oferecem bons retornos potenciais.
O termo carteira recomendada, no dia a dia, está mais associado ao mercado de ações. Mas pode ser utilizado de modo mais geral, como dissemos nos parágrafos introdutórios, para as demais opções de investimento de um investidor. Em nossas terras, o termo é aplicado também à renda fixa e ao tesouro direto, para designar o tipo dos títulos públicos preferíveis em dado momento do tempo, tendo em vista as condições gerais da economia. Por último, pode ser mencionado quando se quer discutir quais os percentuais melhores de se destinar o capital poupado para cada opção de investimento, lançando fórmulas como a de 1/3 imóveis, 1/3 renda fixa e 1/3 ações.
Por último, vale observar o termo está associado muito mais a investing do que trading, ou seja, a investir e não a especular. Carteira remete a ideia de "carregar" um papel, uma ação, ao longo do tempo, mais do que a noção de alguém que rapidamente detém o papel com o intuito de vendê-lo, oportunamente, a um preço superior. Não há nada de errado em especular com ações, ou seja, explorar suas variações de preço de curto prazo, mas vale destacar que tal uso das ações não tem nada a ver com a concepção de carteira.
Em síntese, em uma única frase, carteira recomendada é um conjunto de opções de investimento recomendáveis por determinado tempo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dicas para uma boa aposentadoria

Seguem algumas dicas importantes:

1- Tenha ciência de que as pessoas vivem cada vez mais. A maioria das pessoas conhece essa tendência, mas não nos custa repeti-la, porque se trata da primeira coisa que alguém que planeja se aposentar deve ter em mente.
2- Não se esqueça que as mulheres vivem bem mais do que os homens, de 5 a 7 anos.
3- Lembre-se que toda a expectativa de vida é uma média. Podemos viver mais ou menos. Procure avaliar sua genética, por meio de exames de DNA que revelem a propensão a doenças (que se tornarão mais baratos e comuns), pesquisa entre seus familiares e testes laboratoriais que indiquem sua propensão para doenças mais comuns, como diabetes e pressão alta.
4- Os custos de vida na aposentadoria não são necessariamente mais baixos. Embora você vá economizar com gastos que você tinha apenas quando trabalhava, como o estacionamento próximo do trabalho, as roupas especiais, os gastos com deslocamento e os serviços que tinha de contratar porque não tinha tempo pra fazer, como jardinagem ou limpeza da casa, por exemplo, na idade avançada a demanda por serviços fica ainda maior. Talvez você precise contratar um motorista, por exemplo, e os serviços domésticos que você começou a fazer logo após a aposentadoria tornam-se impossíveis de serem realizados poucos anos depois. Mas a maior dificuldade das pessoas mais velhas é com os gastos com saúde. É difícil calcular se vale a pena tomar um remédio mais caro ou fazer alguma cirurgia que o plano de saúde não cobre. O resultado é que as pessoas gastam muito com sua saúde, e cada vez mais.
5- Como os idosos são muito dependentes dos serviços, nas economias em desenvolvimento eles sofrem com uma inflação bem maior do que aquela divulgada pelos índices oficiais. Em geral, nos setores agrícolas e industriais, ao longo do tempo pode-se observar um aumento da produtividade com consequente redução dos preços. Isso não ocorre, no entanto, no setor de serviços. Como não há aumento de produtividade, mas há maiores demandas por conta do crescimento da economia, é natural que os preços subam. Do corte de cabelo à faxina da casa, a contratação de um táxi ou os serviços de um fisioterapeuta, os aposentados sofrem com o aumento dos preços. Muitas vezes os discursos econômicos podem passar a impressão de que tal aumento seja temporário, fruto das más condições da economia. A verdade, porém, é que a inflação dos preços nos serviços é uma tendência. Se você é cauteloso no planejamento da aposentadoria, não se esqueça de considerá-la em suas planilhas.
6- Não se esqueça que você não se aposenta sozinho. A maioria das pessoas possui uma família. Mesmo que você não tenha filhos, ainda deve possuir irmãos e sobrinhos. Com o tempo isso vai mudar, é claro, e teremos pessoas que serão a segunda ou a terceira geração de filhos únicos. Mas via de regra as pessoas convivem com seus familiares, para o bem ou para o mal. Isso significa que eles influenciarão nos seus cálculos e que as planilhas que você digita no teclado de seu computador terão o calor das emoções e a força dos seus genes. Não existe uma conscientização real do quanto você precisará ou usará na aposentadoria sem levar em consideração a situação econômica de seus familiares. Talvez você ganhe uma herança grande, o que invalida sacrifícios no curto e médio prazo. Quiça você seja a pessoa responsável por ajudar filhos e netos em dificuldades financeiras. Dificilmente você conseguirá manter um padrão alto de vida se as pessoas próximas a você do ponto de vista genético e emocional estejam em meio a penúria. Portanto, um bom planejamento conduz a uma avaliação realista das expectativas de renda das pessoas próximas e daqueles que deixarão a vida antes de nós.
7- Saber que o futuro é muito incerto não deve fazer você desanimar ou desistir de elaborar um bom planejamento. A incerteza deve ser usada para aumentar a sua margem de risco e pra ajudar a perceber que não controlamos o futuro como gostaríamos. É preciso persistir nos planos e metas, mas sempre tendo a ciência de que não são exatos, mas referências geográficas para um local de chegada que ainda estamos por fazer e conhecer. A lista de incertezas é enorme: quanto tempo viverei, quanto custará minha vida quando aposentado, por quanto tempo conseguirei manter o meu mesmo nível de ganhos atual que permite tal volume de economias, como meus familiares e pessoas próximas evoluirão ao longo do tempo, como a economia irá se comportar, como serão os avanços da medicina e os preços para uma saúde melhor. Por outro lado, temos uma única certeza: de que cedo ou tarde iremos morrer e de que o dia e hora de nossa morte é imprevisível.
8- Não esqueça as lições básicas de finanças pessoais.
9- A formação de conhecimentos financeiros deve ser contínua e aprofundada no início. A maioria das pessoas faz um planejamento de sua aposentadoria sem ter estudado o conteúdo de finanças de modo suficiente. Quando muito leram um ou outro livro de auto-ajuda financeira em que o suposto especialista ou milionário prometeu o enriquecimento fácil com um pouco de disciplina financeira. Os livros de finanças pessoais mais simples, que são os mais lidos, são geralmente muito ruins. No afã de obter uma grande vendagem nas livrarias, prometem ganhos irreais com a aplicação de fórmulas construídas com eventos que dificilmente se repetirão no futuro. É fundamental que nos primeiros anos de planejamento para a aposentadoria a pessoa se dedique a ampliar seus conhecimentos no assunto. Note que ao longo da vida fazemos isso com muitas coisas: na culinária, alguém nos ensina a cozinhar, assistimos programas de televisão, estamos envolvidos, mesmo que indiretamente, em um aprimoramento contínuo e compramos livros de receitas. Em informática somos forçados a aprender a operar os principais programas e sistemas operacionais e nos obrigamos a nos atualizar constantemente. Na escola, aprendemos conteúdos relativamente aprofundados de disciplinas como português, matemática, física, química e biologia, mesmo sabendo que não serão necessariamente utilizados. No entanto, em finanças pessoais, as pessoas tem preguiça de estudar mesmo que um conteúdo mínimo. Há uma barreira similar ao estudo da matemática, que deve ser superada, porque caso contrário o custo é muito alto. No começo você precisará estudar bastante. Depois de dominado o conteúdo básico, após aprender a entender o balanço de uma empresa aberta, conhecer os indicadores fundamentalistas, saber porque as moedas nacionais oscilam de valor, como acontecem as bolhas de preços de imóveis de demais ativos, como se aplicam os juros compostos e quais são os principais títulos de dívida pública oferecidos no mercado, você precisará apenas acompanhar as notícias, com alguma frequência, e fazer pequenas reciclagens ano após ano para verificar as principais mudanças nas alternativas de investimento.






terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Uma regra relativamente simples de equilíbrio previdenciário

O debate sobre a idade da aposentadoria nos países desenvolvidos é muito extenso, a literatura é enorme e multidisciplinar, abrangendo economia, demografia, saúde, política e filosofia. Quando é muito difícil fazer um resumo ou uma revisão do estado das artes, talvez seja melhor basear-se em regras mais simples.
Vejamos algumas hipóteses que, uma vez assumidas, ajudam a formular regras de bolso fáceis de refletir sobre o assunto:
i) a idade média de ingresso no mercado de trabalho é de 21 anos.
ii) a expectativa de vida média pra quem já alcançou 21 anos é de 85 anos.
iii) o crescimento demográfico é zero.
iv) a taxa de juros não influencia no balanço previdenciário.

Façamos alguns comentários para explicar cada uma das hipóteses. Quanto maior a idade de ingresso dos jovens no mercado de trabalho, mais difícil fica custear a aposentadoria. Tem sido uma tendência o aumento dessa idade, mas há limites para sua expansão indefinida. Os empregos que envolvem uma formação longa, como de medicina e engenharia, sempre serão poucos comparados a grande maioria das ocupações em uma economia, que não exige uma formação tão demorada.
85 anos de expectativa de vida é um valor bastante razoável e praticamente desconsidera saltos significativos provenientes de avanços na medicina com impacto na longevidade. Reduzindo as mortes violentas dos jovens, que parece ser algo aceitável com maior vigilância e uma política mais racional e liberal em relação às drogas, já vivemos com valores próximos a esse número, mesmo no Brasil.
O crescimento demográfico nulo já é uma realidade nas economias avançadas e nas de desenvolvimento médio. É o caminho natural que os países estão tomando. Claro que muitas nações enfrentam o problema de taxas aquém dos volumes de reposição. Mas políticas governamentais ativas podem trazer as taxas de fertilidade para percentuais desejáveis, para estabilizar a população. Um contingente populacional estável é o que se pode esperar com bastante razoabilidade.
Assumindo uma população estável, a pirâmide demográfica torna-se um prédio demográfico, ao estilo das grandes torres que se afinam nos andares superiores. Não há porque iludir a população que a contribuição previdenciária tem a natureza de uma poupança forçada. No passado os governos venderam essa ideia com o intuito de aumentar os impostos e taxas e desviar recursos para outros tipos de gastos, como os militares e os de infraestrutura. Essa história não cola mais, como dizem. Não há porque, por exemplo, eu confiar no governo para administrar os recursos que eu poupei para a aposentadoria. Não faz sentido tal versão dos fatos. O melhor é assumirmos a verdade: a nossa contribuição previdenciária vai para o bolso de quem está aposentado e o equilíbrio é sempre entre as coortes que pagam e as que recebem. Portanto, se não tem nada a ver com a transposição de dinheiro ao longo do tempo, mas simplesmente com a transferência de renda entre gerações, não faz sentido falarmos de taxas de juros. Só deve observar tais taxas quem está engajado em sistemas de previdência privada.
Vejamos como as hipóteses continuam:
v) a "distância" temporal do início do trabalho ao fim da vida é 64 anos.
vi) para simplificar, as coortes (a quantidade de pessoas dentro de cada parte da geração), ao longo do tempo e da idade, tem o mesmo tamanho. Podemos imaginar que o excedente da expectativa de vida, as pessoas que sobreviveram, preencheria o espaço deixado aberto pelas pessoas que já morreram durante a aposentadoria.
vii) ao menos 20% das pessoas em idade de trabalhar não contribuem. Trata-se do contingente dos desempregados, dos afastados,  dos sonegadores, dos inválidos e dos falecidos durante o tempo de trabalho, em idade ativa. Esse percentual é otimista. Varia de país pra país, de acordo com a qualidade institucional e o montante de benefícios assistenciais. Grande parte desse percentual acaba se aposentando normalmente.
viii) quem se aposenta aceita uma redução média de 20% dos ganhos. Note que esse percentual é o mesmo do grupo que não contribui. O grupo de aposentados não contribui, no entanto.
Como consequência:
viii) Para garantir cada 8 anos de aposentadoria, quem trabalha deve contribuir com 12,5%, ou 1/8, de sua renda. Para se ter 16 anos de aposentado, será preciso uma contribuição de 25% da renda. A idade correspondente é de 69 anos.
ix) Sistemas muito generosos, que permitem as pessoas se aposentarem com 61 anos, implicam contribuição de 37,5%
O mais difícil é entender como se comportam os eleitores. Como regra geral deve-se observar quem ganha e quem perde com a distribuição de renda. O primeiro critério é a expectativa de vida de cada grupo eleitor. Quem viverá mais necessariamente defenderá aposentadoria mais cedo, porque o montante ganho sem trabalhar é bem maior. O interessante é que tal raciocínio é contra-intuitivo. Em geral as pessoas dizem o contrário quando tem a expectativa de morrer antes. Falam que precisam se aposentar mais cedo porque caso contrário não poderão usufruir da aposentadoria.
O grupo dos aposentados em geral parece ser indiferente às mudanças de idade das aposentadorias. Mas não deveria ser. Em princípio deveriam ser, sempre, favoráveis ao aumento do tempo de contribuição, para reduzir o risco de que tenham de dividir o seu pedaço do bolo com novos aposentados.
No mais, pra quem já paga a contribuição, quase sempre será prejudicial uma mudança nas regras com vistas ao aumento do tempo de idade. A exceção se dá por conta daqueles que morrerão antes do que a média das pessoas e cuja redução correspondente da contribuição mais do que compense a perda de ganhos durante a aposentadoria.
Na prática é difícil imaginar as pessoas dispostas a contribuir com mais de 25% de suas rendas apenas para fins previdenciários, sem considerar os demais impostos. Em verdade, creio em um número mais razoável de uma contribuição previdenciária de 12,5%, o que garantiria apenas 8 anos de aposentadoria, ou seja, um limite de idade de 77 anos pra se aposentar.
No fundo, trata-se, antes de tudo, de um problema de distribuição de renda, dos mais ricos (que pagam mais impostos em valores absolutos e contribuem mais) para os mais pobres, dos doentes para os saudáveis e dos homens (que vivem bem menos) para as mulheres. Também transfere renda a geração que paga por um limite de idade baixo e recebe um limite de idade alto. Por fim, vale notar que o grupo que mais se deu bem foi aquele que pagou para ter poucos anos de aposentadoria e recebeu muitos anos, após o aumento da expectativa de vida.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Carteira recomendada pra janeiro 2014

Já elogiamos muito a Souza Barros, principalmente durante 2012. Mas a manutenção de PETR4 no portifólio me parece imperdoável. No mais, a corretora manteve sua carteira, com GGBR4, ABEV3, TBLE3 e UGPA3, sem small caps. Também petroteimosa foi a Votorantim, com GGBR4, ITUB4, LEVE3 e JBSS3. Ao menos dá pra fazer um churrasco.
Finalmente a Santander saiu da faculdade: tirou a Estácio e ficou com SEER3 (Ser Educacional), USIM5, BBSE3, RENT3 e BBDC4. Quem quiser ESTC3, igualmente acha na carteira da Ativa, com SUZB5, MRVE3, CCRO3 e SBSP3. Quem adora levar ferro, pode seguir a BB Investimentos, com VALE5, USIM5, TUPY3, misturados com a mesma ESTC3 e GFSA3.
A campeã do ano passado, a Bradesco, focou no mercado interno: ABEV3, BBSE3, HYPE3, RENT3 e, em exceção, SUZB5. A BTG Pactual não quis se arriscar a fugir dos pares e escolheu VALE3, SUZB5, BBSE3, MRVE3 e TUPY3. Dificilmente vai liderar as apostas, mas por certo não ficará na lanterna.
A duvidosa XP não tem mais jogado bingo como nos anos passados e segue com ações corriqueiras: CSAN3, ESTC3, MPLU3, VALE5 e VLID3.
Enquanto muitos escolhem a Suzano, a Citi vai contra a corrente e coloca FIBR3, ao lado das não surpreendentes GGBR4, MILS3, RENT3 e BBSE3.
A Geração Futuro, que foi bem em 2013, vai com fé na cara KROT3 e na temerária CIEL3, ao lado de TUPY3, VALE5 e BBSE3.
A Planner, por sua vez, anda solitária e com saudades: BBAS3, EZTC3, BEEF3 e MULT3 são apostas isoladas no universo das corretoras. A Octo é a única a vestir sandálias com GRND3. E a SLW faz um resumo das tendências atuais de coadunar o externo com o interno: GGBR4, VALE5, CCRO3, BBSE3 e TBLE3.
I.m.h.o., aço demais para um ano em que o Brasil será questionado. Pouco mercado interno para um ano de eleição.