sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Análise técnica avançada não funciona

Há um mercado grande de cursos, apostilas, livros e instrutores que disputam alunos de análise técnica. O assunto, quanto mais aparentemente sofisticado, mais desperta o interesse dos incautos e promete maiores lucros. Mas o resultado, ao menos em tese, é irônico.
A análise técnica de fato funciona, muitas vezes. Mas não por você ter descoberto alguma fórmula mágica ou um desenho oculto em meio a linhas, topos, barras e fundos. Ela dá certo porque o mercado, no curto prazo, está sempre se auto-realizando. Ele se movimenta não de acordo com os fundamentos reais, mas com as expectativas de seus agentes, que na maior parte das vezes estão fundadas em emoções e julgamentos coletivos. Se todo mundo olha o mesmo gráfico e vê o ativo crescer, e todo mundo concorda que essa é a tendência do ativo, é natural que ele continue crescendo.
Mas a análise da análise técnica não é tão trivial assim. Movimentos auto-realizáveis dependem da ação conjunta de vários agentes. Nos mercados, salvo manipulações, essa ação não é coordenada conscientemente pelos agentes que se combinam para fazer o preço do ativo crescer. A coordenação é inconsciente e involuntária. Todos agem como se o ativo fosse crescer e de fato ele cresce. Claro que na prática há muitos ruídos nesse processo e na maioria das vezes não há mamão com açúcar na vida de um trader.
Se todos têm de agir juntos e de modo semelhante, mesmo sem se comunicar, a escolha ótima recai em comportamentos repetitivos, estereotipados e automáticos. Nada de reinventar a roda. É como um jogador na posição de volante, em um time de futebol, burocrático, que joga plantado e dá chutões pra frente. Ele sabe que seu papel durante o jogo pode ser justamente aquele de não criação. Também é como uma fala em uma festa de formatura: é boa a que escolha as palavras esperadas. Ou um porteiro, em que sua função é não fazer nada de diferente, apenas olhar e reprovar visitas indesejadas. Enfim, há milhares de ofícios em que o que se espera é o sujeito reproduzir uma técnica, uma tarefa ou um produto sem alterá-lo. Isso é muito mais comum do que o contrário, quando você pode soltar sua criatividade e sua inspiração para inventar algo diferente.
Não há o que revelar na análise técnica. Ela funciona justamente quando não há nada oculto e todo mundo, até mesmo uma criança, pode dizer o que vai acontecer com o ativo no dia de amanhã. Ou ele está subindo ou está descendo. É simples. Quanto mais gente achar a mesma coisa, mais a profecia dará certo. É o oposto da previsão do tempo, quando a opinião das pessoas não tem nenhum impacto nas movimentações atmosféricas.
Quem insiste em sofisticar a análise técnica, inventando figuras, descobrindo supostos padrões, testando fórmulas, mesmo sabendo que as regularidades podem ser infundadas, apenas foge do resultado ótimo. Se você tem de fazer a análise que todo mundo faz, não adianta ficar meses comparando diferentes médias móveis ou números de Fibonacci, porque o grupo de pessoas que faz isso sempre será muito pequeno e não terá força para auto-realizar os mercados.
As lições que se tira do mundo da análise técnica produz resultados estranhos, em desalinho com o mercado de ensino de tal corpo de conhecimento. Três lições são mais importantes: 1- quanto mais indicadores forem usados no mercado, menor é sucesso da análise técnica. 2- o mesmo vale para o número de figuras (tudo além de topos e fundos, como ombros, pirâmides, bonecos, dentaduras, etc.). Com tantos indicadores e figuras, é improvável que todos achem a mesma coisa. Enquanto um vê um tigre no desenho, outra pessoa vê, no mesmo desenho, uma borboleta.
A terceira lição é a mais boba de todas. Há décadas, era relativamente fácil de se dizer se o ativo estava subindo ou descendo. Era só ter olhos. Hoje isso não é mais trivial. Com as facilidades da informática, você precisa escolher o horizonte de seu gráfico, se cobrirá horas, dias, semanas ou meses. Daí tudo se complica, porque o ativo pode estar subindo durante o dia, mas estar descendo na semana, subindo no mês e descendo no ano. Ou seja, as unidades diferentes de tempo transformam tudo em uma salada. Até mesmo algo que era relativamente fácil, dizer se um número está aumentando ou reduzindo, passa a ser quase impossível de se dizer com certeza, salvo nos casos de números muito bem comportados, com poucos componentes aleatórios, o que é cada vez mais raro nos mercados. Portanto, quanto mais complexa temporalmente for sua análise, pior ela será. Para dar certo, mais uma vez, você precisa ser tosco, buscar o gráfico que todo mundo usa e fechar os olhos para o resto.
Em suma, quanto mais diversificada as ferramentas de análise técnica, pior é o resultado. Não o seu resultado, isolado, mas o de todo mundo. Os números andam em passeios aleatórios, em que quase ninguém consegue ganhar dinheiro com análise técnica.
Estudar análise técnica é como construir uma escada para subir um degrau e, depois, quando você está em cima, jogar a escada fora. A análise técnica ensina, na marra, o aluno a saber diferenciar sinal de ruído. O normal é se iludir em algum grau e perder tempo em ferramentas não só desnecessárias como contraproducentes. O lucro, de qualquer forma, só virá com o tempo, fruto de um conhecimento tácito que não se encontra em palavras. De qualquer forma, é preciso estudar pra saber o que se está fazendo com exatidão, revelando os porquês. Buscar fórmulas que se conformem aos resultados passados é um erro típico. Garimpar padrões em meio a ruídos aleatórios é outro. De todo modo, para superar tais tentativas, é preciso disciplina, estudo e dedicação. Mesmo o mais experiente operador, por mais que conheça a teoria e os fundamentos, cedo ou tarde cederá à tentação de achar alguma fórmula mágica.
A busca por padrões é inerente ao comportamento humano. Mas o investidor inteligente sabe reconhecer onde eles cabem e onde não cabem. Não insiste na busca onde não há padrões e não se envergonha de restringir sua análise ao senso comum, quando existe. Ser tosco pode ser uma opção inteligente.

Análise técnica em mercados cambiais

Desde os anos 90 a literatura acadêmica sobre o funcionamento dos mercados cambiais não para de crescer. Por um lado, há muitos dados para serem investigados. Por outro, há um interesse óbvio em aumentar as capacidades preditivas dos modelos.
 Taylor e Allen (1992) pesquisaram o comportamento dos dealers cambiais de Londres, em 1988, e revelaram que pelo menos 90% deles usavam em algum grau a análise técnica em seus estudos, principalmente quando se trata do curto prazo. Para o longo prazo, a análise fundamentalista ganha espaço. Taylor continuou suas pesquisas nessa linha e anos depois criou modelos capazes de captar as movimentações de câmbio em obediência aos fundamentos no longo prazo, mas o respeito ao passeio aleatório no curto prazo.
A pesquisa original foi especialmente interessante pois indicou a possibilidade dos mercados se auto-realizarem (self-fulfilling). Essa é única hipótese racional, suficiente e necessária capaz se sustentar a validade da análise técnica.






TAYLOR, Mark P.; ALLEN, Helen. The use of technical analysis in the foreign exchange market. Journal of international Money and Finance, v. 11, n. 3, p. 304-314, 1992.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Carteira recomendada do Tesouro Direto para agosto de 2014

Com a Selic estacionada nos 11%, fica claro para os analistas que esse número é o teto do Palácio do Alvorada. Não podemos esquecer que a meta de inflação foi descumprida várias vezes desde que foi implantada. Com a inflação passando, mesmo que à risca, o teste de sua meta, é muito provável que a presidente esteja satisfeita com tal elevação de nível de preços. O controle, sejamos francos, é para não ultrapassar 6,5% — esqueça o centro de 4,5%. A esquerda econômica acredita, com fé, que uma inflação moderada faz bem.
Isso significa que talvez seja hora de largar as conservadoras LFTs e, paradoxalmente, encarar um pouco mais de risco, mesmo sob a política econômica desviada. Esquecer os eventuais prejuízos dos títulos prefixados que você teve de aceitar e entender em 2013 e se expor às LTNs e NTN-Fs, que pagam 12% ao ano (com vencimento de 2018 em diante).
Com a inflação doméstica em uma linha mais previsível, pode ser interessante reduzir o risco de sua carteira com NTN-Cs, indexadas ao IGP-M, para se assegurar diante de que alguma aventura cambial no primeiro ano da nova gestão do ministério da economia.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Carteira recomendada para agosto de 2014

A média do retorno das carteiras (aquelas compiladas pelo Valor Econômico) tem perdido do Ibovespa esse ano. Tal resultado é um pouco desalentador e favorece os preguiçosos espertos que desistem de tentar bater o mercado e aceitam o índice. Não à toa muitos recomendadores se arrependeram e fizeram as pazes com a Petrobras. Consta até mesmo nas conservadoras Ativa e Souza Barros.
Algumas observações são importantes. Depois de levar porrada em julho, a BB Investimentos resolveu mudar toda a carteira e agora busca o Ibovespa descaradamente, com Vale, Petro, Itaú, Marfrig e, a surpresa, Gol.
A XP não voltou mais às aloprações de 2013 e mantém a pegada leve com Cielo, Itaú, Randon, Estácio e BB Seguridade. Se for mal, pelo menos está na maré.
A Geração Futuro, que é a campeã do ano até agora, com larga vantagem, manteve sua carteira, distribuída em Klabin, Raia, Cetip, BB Seg., e Estácio. Praticamente uma carteira de mercado interno, mesmo com a economia em declínio, mas de característica defensiva, podendo responder inversamente às variações píbísticas. Com a economia morna, é estranho ainda ver ABEV3 (SLW), PCAR4 (Citi) e HYPE3 (Bradesco), papéis tão dependentes das expectativas brazucas. A maioria das corretoras expurgou tais ações para agosto.
As telefônicas sumiram da praça. Só entrou a TIMP3 na Planner, mesmo assim esperando por boas notícias temporárias. Também foram varridas as empresas ligadas ao mercado imobiliário e ao setor elétrico. O impressionante é a força das ações ligadas ao mercado financeiro. Da carteira do Valor de 10 ações, 5 são do setor: relembrando, Itáu, Bradesco, BB Seg., Valid e Cielo. Isso mostra medo do mercado externo, temor da chamada política industrial brasileira e atenção aos desmarcos regulatórios.
Perder do Ibovespa e ainda ficar negativo (como metade das carteiras) é como fazer um gol contra. Pra evitar o vexame, o melhor é seguir esta estranha correnteza desse período pré-eleitoral.