quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As polêmicas apostas políticas

Em seu blogue (04/11/12), Paul Krugman, um defensor escancarado de Mitt Romney, duvidou da eficiência do mercado de apostas como preditor das eleições. Ele escreve não ser fã da sabedoria das multidões (the wisdom of crowds). E cita duas razões para tal: i) os apostadores usam do mesmo universo de informações dos não-apostadores em suas análises; e ii) alguns apostadores colocam o dinheiro em candidatos que eles querem que ganhe e não em quem eles realmente acham que vão ganhar.
Os argumentos de Krugman são péssimos. A concepção de que o universo de informações é o mesmo, ainda que razoável, é enganadora. Por vários motivos. Os apostadores não escolheram apenas entre Romney e Obama para a presidência do país, mas como vencedor nos Estados específicos. E aí a proximidade da fonte das informações influencia muito. Tendo em vista que as pesquisas nos estados que poderiam mudar de vencedor dão margem para a dúvida, pois a margem de erro abria a possibilidade de vitória dos dois candidatos, elas fornecem apenas a informação de que naquele determinado Estado o vencedor está indefinido. Mas o morador de Nevado ou Iowa tem acesso a informações que um acadêmico novaiorquino leitor de jornais e atento a pesquisas não tem: ele sabe quem está com preguiça de ir votar, quem mudou de opinião, quem é indeciso. Não há dúvida que em nível local o apostador pode controlar mais informações e, com inteligência, fazer bom uso delas.
Outro problema é que as pesquisas de opinião muitas vezes são viesadas a favor de um ou outro candidato, por meio de técnicas de metodologia ou por simples manipulação. Um apostador não tem porque alterar o resultado de suas pesquisas, pois ele está realmente interessado em saber quem irá ganhar e não tem como objetivo influenciar as pessoas. A mentira, para um apostador, não interessa.
Uma terceira questão é quanto ao uso da informação. Um apostador, ao colocar dinheiro de seu próprio bolso, tem muito interesse em explorar todo o universo de informações existentes. Ou seja, ele de fato usa as informações e as busca. Outra pessoa, um jornalista ou um palpiteiro qualquer, ainda que tenha acesso à informação, pode não buscá-la de fato, por falta de interesse em assim fazê-lo. Uma palavra errada de um jornalista que busca predizer algo será facilmente esquecida por seus leitores e o custo de errar uma previsão para um não-apostador é muito baixo. Ao contrário, o apostador tem um custo direto em errar sua previsão e fará de tudo para não fazê-lo. E o apostador não pode se escorar em margens de erro, como fazem as pesquisas. Se ele errar, terá prejuízo.
Por fim, é preciso reconhecer que existem apostadores não profissionais, por lazer, que de fato apostam para quem eles querem que ganhe. É uma forma de tornar mais emocionante a disputa. No caso das eleições, torna-se prazeroso acompanhar o seu candidato e torcer para que ganhe na reta final. Esse comportamento, no entanto, não está presente na maioria dos apostadores. Mesmo se esse tipo de aposta viesada fosse a norma, não deixaria de servir como uma pesquisa de opinião, tendo em vista que revela os votos das massas indiretamente.
Por tudo isso, apostar em política é muito interessante. Mas o apostador acostumado com eventos esportivos deve estar atento às peculiaridades das estatísticas e cotações, tendo em vista que a probabilidade contida nos preços pode sinalizar, com maior segurança, os resultados finais. Em outras palavras, no caso de francos favoritos, as probabilidade corretas do mundo real podem ser mais altas do que as probabilidades do mundo das apostas. Se existe algum viés nas probabilidades das casas de apostas, é sempre em prol dos não favoritos. Isso Krugman não foi capaz de reconhecer, pois seria admitir a influência de sua emoção e sua irracionalidade em sua análise, algo condenável para um economista de sua estirpe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário