sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A psicologia das metas econômicas

Há um fato interessante em psicologia econômica: um número é melhor do que nenhum. O sucesso das metas de inflação em grande parte se deve ao seu aspecto psicológico. Sabemos que a economia é muito instintiva e sensível à incerteza. Quando apresentamos uma meta para a inflação, mesmo que pouco crível, há um escopo considerável de informações que se quer transmitir. Sinaliza-se algo como "sabemos onde nós vamos chegar" ou "temos o conhecimento suficiente para poder chegar a um número" ou ainda "temos ferramentas para alcançar o valor determinado". Se não temos um número, sinalizamos muitas coisas ruins que podem levar a incerteza: "desconheço onde quero chegar", "não dou importância para tal", "não tenho o controle dessa variável", "as ferramentas existentes não funcionam para alcançar a meta". Por isso, é sempre melhor apresentar um número, mesmo sabendo de suas deficiências e sendo consciente da necessidade de ter de se justificar a posteriori de eventuais desvios. Não apresentar ou fugir ao tema é fomentar a incerteza e a insegurança dos agentes econômicos.
Para fugir às especulações, a autoridade econômica deve dizer que tem um número. Nem sempre ela precisa revelar esse número. A revelação também é uma escolha política, porque o agente enfrenta dia a dia uma miríade de lobistas defendendo um ou outro lado do número. Não somos nós que temos de aguentar a choradeira nos balcões do Ministério da Fazenda, mas é perfeitamente compreensível que as autoridades nem sempre optem por expor seus planos. Em princípio, mais informação é sempre melhor, mas há exceções.
Nas finanças pessoais acontece algo muito parecido. As pessoas precisam de números — simples assim. Sem coordenadas elas se perdem. Quando mentalizam algo como "vou alcançar um milhão" elas tem um norte claro que ajuda em suas decisões diárias de consumo e poupança. Sem esse número, as pequenas decisões do presente ficam mais difíceis de serem feitas, o indivíduo se perde em uma confusão de interesses imediatos e pouco alcança no futuro. O mesmo vale para as regras de onde aplicar o dinheiro. Estratégias de bolso do tipo 1/3 em imóveis, 1/3 em ações e 1/3 em renda fixa, ou 1/2 em ações e 1/2 em renda fixa podem trazer conforto mental ao investidor, que não precisa a cada aplicação ter de refazer seus processos decisórios. A decisão de investir não pode ser sofrida, porque desestimularia novos investimentos. Tem de ser simples, para que o prazer de ver o dinheiro crescer sozinho supere os danos de ver que ele poderia ter crescido mais em outra aplicação.
É claro que as metas tem de ser das variáveis corretas. Em finanças pessoais, muitos miram em metas de rentabilidade, mas se trata de uma variável que os agentes não tem nenhum controle. A alternativa é buscar variáveis que se tem melhor controle. A mensuração de rentabilidades a partir de uma algum benchmark ou rentabilidade de mercado é uma tentativa de trazer mais controle às suas mãos.
O governo enfrenta problemas similares ao estipular suas metas. Ele pode não querer definir uma meta de crescimento econômico, porque não é uma variável que ele tenha controle saudável. Quando você tenta estabelecer metas para algo que não tem controle, a consequência é a ansiedade e a depressão, porque somos punidos e recompensados aleatoriamente, sem vínculo com nossas ações. Por fim, os agentes desconfiam do governo quando ele tenta missões impossíveis, pois sabem que buscará fugir das regras do jogo (roubar, no sentido figurado) para alcançá-las.

Nenhum comentário:

Postar um comentário