quinta-feira, 21 de junho de 2012

Estruturalismo e ecologia

Agora foi a vez de Bresser-Pereira (FSP, 18/06/12) dar seus pitecos no desenvolvimento sustentável. É engraçado ver o otimismo de nossos economistas heterodoxos quando ficam mais velhos, à esteira de Paul Singer e Celso Furtado, para citar dois casos.
Bresser acredita que o PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é, de fato, uma prova de governança global. Penso o contrário: se algo fracassou no âmbito da ONU foi o meio ambiente e a tentativa malograda de instituir alguma forma de governo supra-nacional nesses temas.
Fala que o problema da defesa ambiental é o do carona — tirar vantagem do esforço ambiental de terceiros sem fazer a própria parte. Mas não existem só caroneiros no mundo; também há cooperadores e gente honesta. Até aí eu sei, caro Bresser, mas continua sendo um problema de conta: se o número de caroneiros é muito grande, a balança pende para o individualismo. Ademais, mesmo a cooperação possui regras e reciprocidades. Coopera-se com quem coopera, caso contrário os liames que sustentam a cooperação se rompem. E é isso que acontece quando duzentos agentes com interesses diversos se reúnem para decidir qualquer coisa.
Bresser fala que para os neoliberais a alternativa é deixar por conta do mercado. Ora, não se trata de uma alternativa. A ajuste fica por conta do mercado porque não se encontra outra alternativa. E o problema ecológico não é novo. Já temos pelo menos 40 anos de ambientalismo e alertas ambientais e pelo menos 20 anos tentando articular decisões planetárias. Se nada foi feito até agora, é porque é realmente difícil. Não adianta esperarmos por um governo mundial, pois ele não vai aparecer.
Como solução imediata, Bresser fala de metas e taxas sobre empresas poluidoras. Mas esse não é um arranjo simples. As economias nacionais estão profundamente conectadas com suas indústrias poluidoras. Os poluidores geralmente também são os mais poderosos e seus lobbies atuam com relativa facilidade para remover iniciativas verdes mais ambiciosas. Um governo que implemente tais medidas precisa ser proveniente de um partido realmente ambiental, verde, e esses partidos não costumam ganhar as eleições sem amplas alianças que impedem a execução de políticas ambientais abrangentes. Mesmos as pessoas que não usam sacolas de plástico e que separam o lixo em suas casas por vezes não estão dispostos a votar nos partidos verdes. Se em nível internacional a política ambiental é impossível, em nível nacional ela é improvável.
Por fim Bresser diz ser uma tolice o mantra de que os países pobres não podem repetir o padrão de consumo dos países ricos, mas que se isso for verdade, são os ricos que devem diminuir o consumo. Lendo essa frase, parece-me que Bresser nunca leu Marx na vida. Esquece-se que a discussão do padrão de consumo também passa pelo poder. Rico é rico porque tem mais poder. A lição é básica. Não há razão para imaginar que um rico aceitará diminuir seu padrão de consumo por mero altruísmo. E os pobres trabalham feito loucos em países subdesenvolvidos para um dia poder brincar de branco endinheirado.
Enfim, espero que Bresser-Pereira costume ir de bicicleta para o trabalho e que tenha somente um carro tipo mil para emergências. Torço para que isso seja verdade, embora acredite que o mais provável é que tenha um SUV faminto por carbono.

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