sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Carteira recomendada vale a pena?

Na minha opinião, não resta dúvida de que vale muito a pena seguir as carteiras recomendadas, principalmente se você for fazer uma meta-análise, como a que nós fazemos e que o Jornal Valor Econômico faz.
Obviamente, como tudo na vida, não existem apenas pontos positivos em seguir as carteiras. Posso começar o texto elencando as razões negativas, que volta e meia pululam nos fóruns e blogues da internet. 1- Você nunca deve confiar o cuidado do seu dinheiro para um desconhecido, afinal, ninguém está interessado em ganhar dinheiro por você. As pessoas objetivam, no fundo, ganhar dinheiro de você. 2- De um ou outro modo, as corretoras ou agentes que te farão as recomendações irão ganhar parte de seus rendimentos — em geral por meio de taxas de corretagem provindas do giro de carteira. 3- As corretoras podem sugerir a compra e venda de ações para as quais conseguem se antecipar aos movimentos de mercado que elas próprias fomentaram. Por exemplo, eu, corretor, compro a ação antes de recomendá-la e vendo a ação antes de extraí-la de minha carteira. 4- As carteiras recomendadas podem estimular o overtrading, ou seja, a negociação excessiva de papéis, contra o velho conselho de comprar o papel de uma boa empresa e realizá-lo após décadas de paciente espera.
Cada uma dessas críticas possui respostas à altura. A maioria das pessoas não tem tempo nem conhecimento para cuidar de seu próprio dinheiro e para conseguir montar uma boa carteira de ações sozinha. Quando muito, fazem um ou dois cursos de educação financeira ou compram meia dúzia de livros. É claro que tal esforço é insuficiente para acompanhar os balanços das empresas, as perspectivas do setor, as notícias que possuem impacto nos resultados futuros e as condições macroeconômicas internas e externas. Mesmo que você se dedique integralmente à tarefa, é preciso reconhecer que uma análise de boa qualidade demanda o esforço de uma equipe inteira, como aquelas presentes nas melhores corretoras e bancos.
Quase a totalidade dos investidores individuais não vão se dedicar integralmente, tampouco formarão equipes, de tal modo que é necessário ter humildade de reconhecer que sua análise pode não ser tão boa quanto você acha. Mesmo que você estude anos a fio, ainda assim terá de amargar períodos em que seus resultados serão piores, por conta da incerteza de mercado. E muitos daqueles que dizem terem superado os resultados das carteiras recomendadas, se aproveitam de um resultado em grande parte aleatório, que dificilmente terá consistência de longo prazo.
Quando se segue recomendações, você não está confiando o seu dinheiro a um desconhecido. Você mantém o seu livre arbítrio de comprar ou vender ações. Ninguém está fazendo por você. Além disso, não há uma única carteira sendo recomendada no mercado. Existem diversas. Para minimizar o seu risco de estar entrando em uma barca furada de recomendadores mal intencionados, você pode diversificar as carteiras que irá seguir ao longo do tempo. O melhor método, insisto, é fazer uma meta-análise, ou seja, ao invés de analisar diretamente os papéis, você analisa as corretoras e poupa muitas horas de trabalho. É como se você analisasse uma seleção já feita por alguém em que você só precisa alçar os melhores dos melhores. Separar o joio do trigo é um serviço que custa caro para olheiros de futebol e profissionais de recursos humanos, para tomar alguns exemplos de outras áreas. As corretoras fazem isso para nós, investidores institucionais, de graça.
A meta-análise das carteiras também permite ser cauteloso com os possíveis conflitos de interesse, principalmente das grandes corretoras, que podem querer mexer no valor das ações pela simples sugestão de investimento. De certa forma, sabemos quais as corretoras que podem ter tal poder, como aquelas de grandes bancos internacionais e as corretoras com grande capilaridade no Brasil.
As carteiras mensais, ao contrário das semanais, não estimulam o overtrading, porque o prazo é relativamente dilatado e dificilmente todos os papéis são trocados. Em geral, as carteiras que acompanhamos sugerem cinco ações, e trocam de um a dois papéis por mês. Claro que há meses em que todos os papéis são trocados, mas também há períodos, muitos deles, em que a carteira não é alterada, o que demonstra que a busca por maior rentabilidade e melhor reputação pode ser mais importante do que a tentativa de aumentar os ganhos de corretagem com o maior giro de papéis.
Em outros países, o principal argumento contrário a seguir carteiras recomendadas é o de que dificilmente elas conseguem "bater o mercado" com consistência, ou seja, não é frequente terem resultados acima dos índices, como o Dow Jones, o Nikkei 225, o FTSE 100. Em geral replicam os índices ou tem performance muito parecidas, mas com um risco mais alto. Assim sendo, o mais aconselhável nesses casos é buscar opções de investimento com baixos custos de transação, como fundos de investimento, ETFs, que montam uma carteira de papeis equivalente aos índices, por taxas de corretagem muito baixas. Nada disso, no entanto, é semelhante ao caso brasileiro. Além das carteiras recomendadas serem sistematicamente melhores do que o Ibovespa, as taxas de administração dos fundos, mesmo dos ETFs, são muito altas e comprometem a rentabilidade no longo prazo.
Uma taxa de administração de 2% ao ano, para um capital de R$ 100.000,00 investidos, mesmo não aparentando ser de grande monta, corresponde a um custo de manutenção da carteira de R$ 2.000,00 ao ano. Se pegarmos como exemplo uma corretora cara, que cobra R$ 20,00 por operação, os custos de seguir as carteiras recomendadas ainda assim serão bem mais baixos do que as taxas cobradas pelos fundos. Se houver duas alterações mensais, temos um custo de R$ 80,00 por mês e aproximadamente R$ 1.000,00 ao ano, ou seja, metade do valor cobrado por um fundo. Ademais, trabalhando em sua própria carteira, e não por de um fundo, você muito provavelmente irá ter isenção de Imposto de Renda, faculdade esta usufruída para venda de ações no montante de até R$ 20.000,00 ao mês. Com um pouco de pesquisa, você pode baixar muito os custos de corretagem, pois o mercado é altamente competitivo no Brasil.
Enfim, os argumentos em prol de se seguir as carteiras recomendadas são abundantes e sólidos. Claro que ainda assim o investidor precisa fazer a lição de casa, mas é uma tarefa muito menos dolorosa do que se quisesse se aventurar sozinho. Ao invés de ficar debruçado sobre as notícias e balanços diariamente, você precisa se dedicar uma vez por mês a estudar as recomendações e proceder com as alterações necessárias, um esforço relativamente baixo para um retorno alto ao longo do tempo.

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