domingo, 12 de janeiro de 2014

Carteiras recomendadas semanais valem a pena?

Geralmente as corretoras publicam suas carteiras recomendadas na periodicidade mensal. É arbitrário, é claro. A análise poderia ser quinzenal, bimestral, semestral. A divisão do tempo apenas faz a sugestão.
Já dissemos em outro momento as dificuldades de se acompanhar as ações por pacotes fechados de dias. De qualquer forma, para as pessoas mais envolvidas em trades e não em investimentos, que perfaz um universo grande de pessoas, principalmente jovens ou iniciantes tentando ganhar dinheiro com trading, as carteiras semanais podem ser muito interessantes.
Assim como as mensais, elas mesclam características da análise técnica e da análise fundamentalista, com pitadas de análise macroeconômica. A análise técnica aponta tendências de curto prazo que podem ser exploradas com alguma probabilidade de ganho tendo em vista que possuem um ponto de entrada e um ponto de saída bem delimitados, conscientes da existência de eventos futuros perturbadores que podem estar além do horizonte temporal semanal. Lembramos que se dá o nome de swing trade para esse modelo de negócios que usa negócios rápidos com duração de alguns dias.
A dificuldade dos traders amadores para fazer o swing é determinar o ponto de saída. A pessoa sempre acha que saiu cedo demais e deixou de lucar com o movimento correto ou que saiu tarde demais, amargando grandes perdas decorrentes do que julga ser teimosia ou procrastinação. Não cabe aqui nos prolongarmos a respeito da psicologia na análise técnica, um tema muito extenso que avalia o comportamento das pessoas diante de estímulos na maioria das vezes aleatórios. O importante é destacar que, quando delegamos o ponto de saída a algum terceiro, como a carteira recomendada semanal, isso pode nos salvar muitas preocupações e sentimentos de culpa.
A análise fundamentalista, nessa amplitude temporal, em tese, é bem interessante. Tenta se antecipar a possíveis mudanças nos índices financeiros, basear-se na revelação de novos fatos que impactam nos resultados da empresa ou captar ajustes de preço baseado nos fundamentos. Aqui as informações internas, as inside informations, tem peso de ouro para uma boa análise. De modo mais geral, a análise macroeconômica também pode ser explorada, principalmente no que toca a grandes movimentos inesperados ou inexplorados das principais variáveis, como a taxa de juros, o câmbio e a inflação. O que se busca é algum sinal de que a economia interna ou a economia externa se comportará melhor ou pior do que o esperado, o que impacta de forma desigual nos papeis brasileiros, que possuem, muitas vezes, um perfil interno ou externo bem definido.
Afinal, vale a pena? Entendo que se o objetivo da pessoa é o investimento de longo prazo, talvez seja mais aconselhável não seguir as carteiras, que podem trazer muita confusão no decorrer do tempo, principalmente quando passar por períodos negativos enquanto o Ibovespa segue positivo, algo que irá acontecer várias vezes, em virtude dos movimentos aleatórios naturais das séries econômicas. As carteiras mensais geralmente são melhores que o Ibovespa porque o depuram de ativos que se sabem questionáveis mas que o mercado não consegue ajustar os valores de imediato, porque as relações institucionais políticas trazem ruídos no movimento de preços, com agentes segurando os papeis ou os estimulando por razões que não são necessariamente conectadas com sua valorização de longo prazo.
Mas se o objetivo é fazer trading, não há motivo de não segui-las. No limite, o especulador não deveria nem mesmo ficar travado no prazo semanal, mas como nem todos podem passar o dia operando, é confortável determinar o ponto de uma vez por semana. Às vezes pode ser até mesmo mais lucrativo seguir os preços uma vez por semana do que todos os dias, o que por certo traz ansiedade e tendência ao overtrading, que sabidamente corrói a rentabilidade acumulada dos investidores.
Por último, é importante olhar sob o ponto de vista das corretoras. Não são todas que fazem tais carteiras semanais. Por que não? Por várias razões. É estressante publicar as recomendações, pois, mesmo o mais irresponsável e despreocupado analista acaba por assumir uma responsabilidade grande e terá de se defender perante investidores irados se algum ativo divergir demasiadamente. Se análise é feita por uma equipe, há sempre a laboriosa tarefa de se reunir e apontar uma direção comum, o que pode ser desgastante e despender muito tempo. 
A corretora também pode ser questionada de que não se preocupa, de fato, com seus clientes, mas que em verdade os estimula a fazer operações em um número exagerado e desnecessário, com o intuito de que gerar maiores receitas de corretagem. Isso é especialmente ruim para aquelas que cobram preços acima da média de mercado e que querem atrair clientes pela qualidade dos serviços e pela lucratividade dos investimentos em bolsa no longo prazo. Tal problema não afeta as corretoras que cobram corretagens baixas, porque fica implícito ao investidor que suas vantagens perante os concorrentes é permitir um trading mais lucrativo. Em outras palavras, o perfil do investidor em corretoras baratas é, geralmente, de traders, que por certo não reclamarão de receber sugestões semanais de swings.
Enfim, se você é um investidor de longo prazo, fuja das carteiras semanais. Se você é um especulador, abrace-as com inteligência e suspeição.

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