sábado, 11 de janeiro de 2014

Problemas com os rankings de carteiras recomendadas

Dois portais de notícias brasileiros promovem competições e comparações entre as carteiras recomendadas de corretoras e de bancos. Há um número de vinte a trinta instituições no Brasil que publicam suas carteiras recomendadas com periodicidade mensal.
Em princípio, tendemos a notar os aspectos positivos de se promover tais comparações. Chama a atenção do leitor o esforço dos analistas, que tem seu trabalho divulgado. Estimula a investir no mercado acionário, tendo em vista que, ao menos no Brasil, o rendimento médio das carteiras recomendadas tem sido sistematicamente superior ao Ibovespa. Possibilita ao leitor conhecer outras corretoras que estão ativamente captando clientes no mercado. Questiona, naturalmente, a carteira recomendada indicada pela própria corretora ou banco que o cliente tem conta.
Esse último item é especialmente importante, ao nosso ver, porque muitas pessoas têm preguiça em pesquisar com seriedade as carteiras recomendadas e acabam se fiando apenas nas sugestões que tem acesso imediato em seu banco ou corretora.
Diante de tantos pontos positivos, é preciso cuidado para não esquecer dos problemas advindos desse tipo de competição. Vamos elencar os principais:
i) Muitos investidores não possuem a disciplina de atualizar suas carteiras todos os meses. Tipicamente, a pessoa que tem algum dinheiro para investir não sabe qual ação comprar, procura as recomendações, faz uma ou duas operações e não volta a operar por um longo tempo. A atualização das carteiras dos pequenos investidores não é mensal, como deveria ser. Obedece as oportunidades. Quando muito, no momento de comprar novas ações, o pequeno investidor pode dedicar algum tempo para mexer em sua carteira, trocando papéis antigos.
ii) A amplitude de tempo de um mês pode não prestar nem para a análise técnica nem para a análise fundamentalista. Por um lado, a escolha baseada nos fundamentos dificilmente muda de mês para mês a ponto de promover mudanças significativas nas carteiras recomendadas. Por outro, se o objetivo é exercer a escolha de tendências momentâneas e correções de preço, o prazo de um mês pode ser muito longo.
iii) Embora exista transparência natural na revelação dos melhores papeis, o leitor não sabe quais os critérios foram utilizados para as sugestões. É claro que os relatórios específicos dos bancos e corretoras apresentam detalhadamente as justificativas, mas raramente o leitor que consulta os rankings e as relações resumidas das ações tem acesso ou dedica seu tempo a lê-las. Ao final, segue-se as recomendações sem saber ao certo os motivos de fazê-lo e as razões pelas quais as corretoras optaram por tais papéis.
iv) Raramente o procedimento revela  a existência de conflitos de interesse entre as corretoras e os papeis sugeridos. Existe, sempre, o risco de que os analistas estejam recomendando papéis que eles tem algum interesse escuso de que se valorizem ou que ganhem liquidez. Imagine um analista que quer vender suas ações, de alguma empresa pequena; ele pode recomendar com o objetivo de vendê-la em melhores condições e poder realizar seus lucros. Note que em princípio o conflito de interesses fica oculto, pois em tese o analista e o investidor estão no mesmo lado, ambos querem que o papel suba. Mas o raciocínio correto não é bem assim, tendo em vista que o analista antecipa as próprias operações que sugere. Compra antes de sugerir a compra, vende antes de sugerir a venda.
v) A competição pela maior rentabilidade acumulada no ano ou em 12 meses esconde que grande parte do desempenho dos primeiros colocados é fruto de resultados aleatórios. A aleatoriedade é tão forte que raramente os primeiros colocados de um ano conseguem repetir seus resultados em outro ano. A liderança muda com grande frequência, o que mostra que a inteligência dos analistas e a qualidade de suas análises desempenham um papel menor nos resultados.
vi) Com vistas a liderar os rankings, as corretoras podem elaborar carteiras que distorçam a maximização da relação risco e retorno. Isto ocorre porque se trata de uma competição que, por vezes, os primeiros lugares tem um ganho desproporcional em projeção de boa imagem, enquanto os medianos e os lanternas simplesmente são ignorados. Nessa situação, as corretoras, com vistas a ganhar popularidade, optam por maior risco ou escolhem deliberadamente papeis diferentes dos outros competidores para conseguir uma posição distinta, mesmo arriscando caírem da média. O leitor, alheio a esses aspectos, pode estar seguindo uma sugestão cujo objetivo não é, necessariamente, maximizar seu retorno com o menor risco possível.
Embora haja muitos pontos negativos, creio que os pontos positivos os superam. Desejamos vida longa aos rankings e sabedoria e conhecimento aos investidores para entender suas dificuldades.

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