sábado, 18 de janeiro de 2014

Carteira recomendada de dividendos vale a pena?

Geralmente o investidor que prefere papéis que pagam bons dividendos tende a ser alguém conservador. Em oposto, especuladores arrojados, no outro lado do espectro, preferem ações com beta alto, liquidez e volatilidade, para que possam fazer suas operações curtas. Dessa forma, passa-se a impressão de que o aplicador de dividendos é do tipo que "casa" com as empresas. Mas não precisa ser assim.
Não é porque você escolhe companhias que distribuem seus lucros aos acionistas em proporção maior do que os 25% (percentual que a lei para as sociedades de capital aberto  obriga) que você vai fechar os olhos para flutuações no valor de uma empresa. Para citar um exemplo, o governo Dilma fez uma forte intervenção, de modo surpreendente, no regulamento do setor elétrico brasileiro. Ações desse setor perfaziam a maioria daquelas recomendadas pelas corretoras nas carteiras de dividendos. Houve um queda abrupta no preço das ações de quase todas as empresas, mas umas caíram mais que outras e se produziu uma mudança nas relações de preço e lucro e preço e valor patrimonial, a tal ponto que se tornou inquestionável a necessidade de uma recomposição das carteiras. O investidor que "casou" com os ativos errados, como se diz no mercado, por certo teve prejuízos contínuos.
Portanto, é muito recomendável que mesmo os investidores conservadores tenham de recombinar suas escolhas ao menos uma vez por mês. Se não houver mudanças significativas, ele pode continuar com os papeis, economizar os custos de corretagem e poupar seu trabalho de fazer a operação. Mas se nenhuma corretora continua sugerindo aquela ação que você comprou com tanta esperança, é hora de aceitar que nesse barco você não pode remar sozinho.
Assim como qualquer ação, buscar aquelas que pagam maiores dividendos de modo consistente é um trabalho árduo, de pessoas especializadas. Não há como fazê-lo sem um conhecimento específico do setor que se está analisando. Não basta conhecer os balanços contábeis ou os indicadores fundamentais. Como, em geral, as recomendações se concentram em alguns setores específicos — elétrico, telefonia, mineração e setor financeiro — é indispensável um acompanhamento setorial. O caso mais óbvio é do setor elétrico, que já exemplificamos. Alguém que se dedique a estudar as ações boas em dividendos terá de se debruçar sobre a regulamentação brasileira do setor e as notícias de intervenção governamental que frequentemente abalam o mercado.
Com tanto esforço a ser feito, é uma graça divina que haja corretoras divulgando tais carteiras de papéis bons em dividendos, mesmo sabendo que tais composições variam pouco e que os investidores são do tipo que apresentam baixo giro de carteira. Por óbvio, são poucas as corretoras e bancos que fazem tal trabalho. É compreensível.
Uma facilidade específica na análise e interpretação dessas carteiras de dividendos é que elas variam pouco de corretora para corretora. O mercado muitas vezes tem consenso de quais empresas são confiáveis e são boas pagadoras de dividendos. Ademais, a competição entre as corretoras é menor e os problemas de quererem se destacar artificialmente aumentando o risco da carteira escolhida é pequeno. As carteiras de dividendos estão longe dos holofotes, podemos dizer, e isso é um ponto muito positivo para a qualidade do que está sendo sugerido.
De qualquer forma, a pergunta que compõe o título remete a duas questões: 1- se vale a pena eu seguir a carteira de outrem na escolha de companhias que pagam bons dividendos, ao invés de me virar sozinho, estudar e fazer minhas apostas; e 2- se é melhor eu seguir uma carteira de dividendos do que seguir outra carteira qualquer. A primeira questão nós temos, com clareza, que a resposta é sim, vale a pena. Agora vamos explorar a segunda questão.
É uma arrogância querer prever o futuro ou descobrir, ocultamente, padrões gráficos no Ibovespa em seus movimentos de longo prazo. De qualquer forma, quando se analisa um horizonte temporal de anos ou décadas, é perceptível a persistência de fases consistentes, os bull markets (as boas fases) e os bear markets (as más fases). Claro que é difícil saber, no presente, quando um começa e o outro termina. Mas diferente dos mercados diários, em que não se tem certeza do que realmente está ocorrendo, se é uma tendência de fato ou um ruído aleatório, os movimentos de longo prazo são consensuais. Atualmente a bolsa brasileira vive um bear market, enquanto a bolsa americana passa por um momento de bull market. Você pode explorar esse conhecimento para escolher quando optar por ações que são boas em pagar dividendos.
Quando o mercado está aquecido e otimista, as ações sobem bastante. Nesse caso, os dividendos pagos não fazem tanta diferença, porque a subida dos preços da maioria dos papeis, mesmo dos maus pagadores de dividendos ou de empresas endividadas e em prejuízo sistemático, é muito interessante. Mas quando o mercado está fraco e relativamente pessimista, como é o caso do mercado brasileiro hoje, as perspectivas de ganho com o aumento regular dos preços das ações são mais escassas. Nesse caso, a aposta em dividendos é muito boa, porque garante um fluxo permanente de ganhos que você não encontra no então morno e apático mercado acionário.
Podemos nos perguntar, então, se é assim tão simples, por que os investidores não adotam sempre essa estratégia? Na maior parte dos casos é por conta da ambição de querer acertar a entrada dos bull markets, quando os ganhos iniciais podem compensar a espera paciente. Investidores ambiciosos sofrem muito ao sentirem que perderam uma boa oportunidade que outros aproveitaram. Assim, podem preferir seguir a manada, com medo de perder o trem da alegria dos grandes saltos de preços, mesmo sabendo que no longo prazo estariam melhor com outras estratégias.
Note que sua escolha por ações pagadoras de dividendos geralmente pode estar associada a um pessimismo sobre o comportamento futuro do mercado acionário. Se você é um otimista inveterado, optar pelos dividendos pode ser bastante contraditório, assim como se você é um amante do risco. O segredo para uma boa estratégia, que seja compatível com suas expectativas de ganho e de risco, e sua tolerância de se sentir fora do jogo, é se conhecer.
Em suma, opte por carteiras de dividendos, ao invés de outras carteiras, se você tem aversão ao risco e desconfiança em relação ao mercado acionário. Por último, é interessante salientar que tais características, desse perfil de investidor, geralmente tratam de um sujeito que investe pouco em ações e prefere por a maior parte de seu dinheiro em imóveis ou em títulos públicos. No Brasil, o mercado acionário é tido como um investimento de risco. Mas não é necessariamente assim. O menos arriscado é diversificar os investimentos, de tal forma que mesmo as pessoas conservadoras e avessas ao risco, todas elas, deveriam ter parte do seu capital investido em ações.

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