sexta-feira, 23 de março de 2012

A volta do câmbio administrado

Nosso ministro falou e o eco de suas palavras fez-se ouvir nos blogs neoliberais. Mais uma mantegada, disseram muitos. Como se fosse pecado admitir algo que de fato acontece. E nossos nerds não fizeram a lição de casa. Vários países intervieram no câmbio, nos últimos meses, direta ou indiretamente, o Japão, a Suiça, a Europa e os Estados Unidos. Os mecanismos de intervenção são os mais diversos, desde as tradicionais compras dos bancos centrais até as chamadas expansões quantitativas de moedas, cujo principal interesse é provocar desvalorizações na moeda. Para saber disso, basta ler a The Economist ou operar no mercado de forex. Pena que os neoliberais não estudam a história ou os fatos — seus modelos são auto-suficientes.
O câmbio administrado é uma realidade pós-crise. Em governos fortemente endividados, estímulos à expansão da demanda agregada pelos gastos governamentais não é possível. A atuação é pela política monetária. É isso que está acontecendo. E a política cambial, para países desenvolvidos ou com economia robusta, é apenas um capítulo da política monetária — situação bem diferente das economias pequenas em desenvolvimento, em que as políticas monetárias e cambiais estão em compartimentos diferentes.
Confesso que às vezes nossos desenvolvimentistas pecam por aplicar demasiadamente os modelos cepalinos para a diferente realidade de hoje. O discurso de Mantega parece, em certos momentos, confundir o mundo da escassez de divisas do século XX com o mundo dos enormes fluxos de capital internacional em circulação livre do século XXI.
A administração cambial envolve o dilema clássico da economia, inflação ou crescimento. A despeito de queixas neoliberais, no Brasil não é diferente. O pass-through é rápido e infalível. Se há algo que a inflação indexada ensinou aos empresários, é o repasse aos preços. Por óbvio, a inflação corrói o valor real da moeda e a depreciação almejada por medidas administrativas perde força em pouco tempo. Alguma vantagem, por certo, leva o setor exportador, mas não que compense o aumento da inflação. Por isso o governo almeja um câmbio flutuante com bandas, ou fixo com bandas, tanto faz a terminologia. Não pode baixar muito, mas nem subir muito. Melhor deixar como está — de R$ 1,60 a R$ 1,80 — do que fazer experimentos arriscados que possam por a perder o Palácio da Alvorada.




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