Em coluna no FT, Current woes call for smart reinvention not destruction, Lawrence Summers argumenta que estamos passando uma fase de transição no capitalismo, para um mundo pós-industrial, com deslocamento de empregos para áreas como educação e saúde, aumento nos preços relativos dos serviços e incapacidade de manter as mesmas redes de proteção social.
Ficou caro manter os mesmos benefícios de sempre para todos. A direita se esquece desse argumento. A esquerda não quer lembrar. O preço da saúde e da educação não mudaram somente pelo aumento do valor dos serviços, como aponta Summers, mas porque se aperfeiçoaram também.
Há cem anos atrás os cuidados médicos se restringiam à demanda por leitos e doutores. Hoje são exames sem fim, scanners, monitores, mini-câmeras, stenters. Ninguém observa que talvez as sociedades não sejam tão afluentes a ponto de poderem disponibilizar tais tecnologias a todos. É a mesma coisa que disponibilizar para a população inteira casas de quatro quartos, piscinas térmicas, SUVs e televisões gigantes — isso todos sabem, inconscientemente, que é impossível.
A verdade é que não sabemos lidar com limitações de recursos em saúde. E, ao longo do tempo, desaprendemos a lidar com limitações no consumo de comida, energia e educação. Sabemos limitar a compra de bens de consumo duráveis, mas esses estão cada vez mais baratos e nossa sabedoria de economia doméstica já não tem mais tanta relevância.
Os problemas do capitalismo não se restringem mais à macroeconomia. As soluções do keynesianismo são limitadas e obsoletas, despreparadas para nossas realidades pós-industriais. As soluções do neoliberalismo são politicamente inviáveis. Enfim, o que Summers obviamente não viu porque não quis é que a nova importância dos setores de saúde, educação e energia fortalece a emergência de pós-socialismos.
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