terça-feira, 13 de março de 2012

Summers e a crise do capitalismo

Em coluna no FT, Current woes call for smart reinvention not destruction, Lawrence Summers argumenta que estamos passando uma fase de transição no capitalismo, para um mundo pós-industrial, com deslocamento de empregos para áreas como educação e saúde, aumento nos preços relativos dos serviços e incapacidade de manter as mesmas redes de proteção social.
Ficou caro manter os mesmos benefícios de sempre para todos. A direita se esquece desse argumento. A esquerda não quer lembrar. O preço da saúde e da educação não mudaram somente pelo aumento do valor dos serviços, como aponta Summers, mas porque se aperfeiçoaram também.
Há cem anos atrás os cuidados médicos se restringiam à demanda por leitos e doutores. Hoje são exames sem fim, scanners, monitores, mini-câmeras, stenters. Ninguém observa que talvez as sociedades não sejam tão afluentes a ponto de poderem disponibilizar tais tecnologias a todos. É a mesma coisa que disponibilizar para a população inteira casas de quatro quartos, piscinas térmicas, SUVs e televisões gigantes — isso todos sabem, inconscientemente, que é impossível.
A verdade é que não sabemos lidar com limitações de recursos em saúde. E, ao longo do tempo, desaprendemos a lidar com limitações no consumo de comida, energia e educação. Sabemos limitar a compra de bens de consumo duráveis, mas esses estão cada vez mais baratos e nossa sabedoria de economia doméstica já não tem mais tanta relevância.
Os problemas do capitalismo não se restringem mais à macroeconomia. As soluções do keynesianismo são limitadas e obsoletas, despreparadas para nossas realidades pós-industriais. As soluções do neoliberalismo são politicamente inviáveis. Enfim, o que Summers obviamente não viu porque não quis é que a nova importância dos setores de saúde, educação e energia fortalece a emergência de pós-socialismos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário