sexta-feira, 9 de março de 2012

China x EUA

Polêmica, no mínimo, a ideia de Gary Becker e Richard Posner de que o crescimento futuro da China é incerto e que nada garante que ultrapassará a economia norte-americana. No fundo, parecem querer dizer que a China não será maior do que os EUA. E os comentários fanáticos ufanistas de seus seguidores seguiram tal linha.
Os argumentos passam pela fraqueza do setor comercial, a ineficiência das empresas estatais, as falhas no setor financeiro, a instabilidade política e a legislação frouxa.
Os argumentos, exceto pela suposta inépcia do setor comercial, que é abobrinha sem tamanho levando em consideração os mil anos de comércio dos chineses, são razoáveis. Mas a matemática é péssima. Na pior das hipóteses a China será um país de renda média nas próximas décadas, semelhante aos países da América Latina e à África do Sul. Mesmo assim, terá ultrapassado a economia norte-americana ou ao menos empatado, pelo tamanho de sua população.
Mas eu aposto na China e nos países do sudeste asiático. Acho que os argumentos negativos ao crescimento sustentado são exagerados. A instabilidade política não tem sido ruim para os negócios, diferente de países árabes, latinos e africanos, por exemplo. O chinês típico está preocupado demais em como ganhar dinheiro e não quer se incomodar com seus políticos. Um setor financeiro ruim é contornável: o Brasil é a maior prova disso — conseguimos crescer de forma mágica, praticamente sem alternativas de financiamento de longo prazo internas. Uma legislação frouxa nunca foi empecilho para o enriquecimento — as redes sociais e as relações de confiança criam suas próprias regras. Restam somente as empresas estatais. Mas tenho dúvidas se são tão ruins e ineficientes quanto às estatais ocidentais ou às gigantes privadas monopolistas fortemente sindicalizadas.
Por outro lado, os argumentos favoráveis à China são muito fortes. O mercado interno será o maior do mundo, por óbvio, e sabemos que isso faz diferença no longo prazo. Do ponto de vista geopolítico a China está no centro do planeta, enquanto os EUA estão na periferia. A legislação, o estado e os sindicatos não engessam tanto os negócios como no ocidente. O povo chinês já nasce capitalista — um jovem chinês está concentrado em se destacar nos negócios, enquanto um adolescente norte-americano se perde em atividades culturais e esportivas.
O que a China não tem e nunca terá é a cultura ocidental. O quanto essa cultura fará falta para os avanços tecnológicos, a indústria de ponta e as inovações é difícil prever. Talvez fique atrás dos norte-americanos em termos de PIB per capita. Mas em PIB absoluto a discussão me parece encerrada.


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