terça-feira, 27 de março de 2012

Professores universitários ganham muito?

O debate se acirrou nos EUA semana passada, porque um conservador escreveu no Washington Post que os professores das universidades públicas ganham muito. O argumento é que, embora ganhem o equivalente a alguém com a mesma formação no setor privado, trabalham muito menos (ao invés de 50 semanas, 30, ao invés de 40 horas, 20, para resumir). Paul Krugman rebateu e choveram comentários.
Nossas universidades federais e estaduais são semelhantes às públicas norte-americanas. A diferença entre os países está nas universidades privadas. Lá fazem parte da elite, aqui, com exceções, do resto. Mas no Brasil temos um parâmetro muito mais concreto para avaliar o salário dos professores universitários de escolas públicas: o salário dos professores de faculdades privadas.
O salário de um professor doutor nas faculdades privadas fica em média de R$ 30,00 a hora. Um especialista ganha R$ 20,00 por hora. Com 8 horas/aula por semana, como nas públicas, um doutor ganha pouco mais de R$ 1 mil por mês. Com 12 horas/aula, seu salário aumentaria para R$ 1.600,00. Um professor doutor ganha, inicialmente, R$ 8.000,00 em uma universidade federal, para ter dedicação exclusiva — que na maioria das vezes não é levada a sério. Ou seja, ganha-se de 5 a 8 vezes mais.
Os professores públicos argumentam que as horas-aula são somente uma dentre as várias atividades de ensino, pesquisa e extensão que realizam. Mas nas faculdades privadas os professores também realizam essas atividades — igualmente precisam preparar aulas, corrigir provas e trabalhos. A pressão por publicar da mesma forma está presente, porque as faculdades privadas passam por avaliação com frequência e as publicações contam pontos. O chamado trabalho burocrático é pior nas faculdades privadas, por conta da maior exigência dos alunos, necessidade de atualizar sistemas informatizados e pelas constantes fiscalizações do MEC — algo que as públicas desconhecem. Afora tudo isso, o tempo efetivo em sala de aula é muito maior nas faculdades privadas, pelos calendários rigorosos e extensos e ausência de semanas especiais e hábito de faltas e atrasos enraizado nas públicas. Para agravar o contra-senso, são os ricos que estudam nas universidades públicas.
É um sistema desigual que não faz sentido e que o retorno para a sociedade é duvidoso. Dificilmente haverá mudança. Faz parte de nossa ineficiente institucionalidade.

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